QUANDO
NASCE UM ROMANCE
Röhrig
C.
Gênero
literário: Novela
Para John Fante e
Charles Bukowski
Apenas um aviso, querido
leitor
“Se
quiser saborear estas páginas e descobrir como é a vida de um escritor
alcoólatra, neurótico, suas aventuras e fantasias sexuais, suas amantes, os
amigos e toda a atmosfera que o cerca, e sem medo do grotesco e seco ar de um
mundo à parte do habitual e correto... Seja bem vindo! Mas não esqueça que o
avisei.”
Ass.
JEUX
O
tic-tac do relógio no início parecia que vinha de longe... tic-tac, tic-tac,
tic-TAC, TIC-TAC. Acordei com o tic-tac
do relógio da sala, já passava do meio-dia e minha cabeça parecia que ia
explodir. “Ressaca meu amigo, pura ressaca.” Eu pensava. “Muita ressaca.” Arrastei minha cara por debaixo da almofada para
fora do sofá e assim começou o meu dia.
Senti
que tinha algo em minha mão, por algum motivo tinha dormido com aquilo, abri a
mão e encontrei um pequeno pedaço de papel escrito e assinado:
“Uma
coisa eu aprendi, estou sempre matando minhas histórias nas primeiras oito
páginas como se quisesse que o leitor não continuasse, mas se ele insistir
mesmo assim em prosseguir, então ele poderá ver realmente a história que quero
contar...” Por Jeux.
Fiquei
ali parado escutando o silêncio e o murmurinho que vinha da rua, alguns carros
passando seus pneus de borracha sobre o asfalto, o intervalo de silêncio entre
um e outro. Um cachorro a umas quatro quadras latindo, alguns pássaros
discutindo as novidades na árvore em frente a casa, uma sirene. Abracei a
almofada e fiquei imóvel, imaginando que ninguém sabia que eu estava ali,
fiquei encolhido na posição de feto dentro da barriga da mãe, e o tic-tac
continuava... estava seguro ali. Queria simplesmente ficar ali e desaparecer
para o mundo em meus pensamentos, cogitando a respeito do que gostaria de
escrever. É muito fácil começar a escrever uma história contando mil e uma
vantagens, criando cenários maravilhosos, locais horríveis, fantasmagóricos,
iluminados, exóticos. Todas as histórias têm várias facetas fáceis de seguir,
mas o que realmente eu gostaria de escrever ainda não tinha pensado ou não
tinha passado. Foram tantos anos tentando escrever algo que fizesse algum
sentindo, que tocasse pelo menos um coração ou que abrisse uma porta para um
mundo além da razão. Precisava de uma pedra de toque. Uma pedra mágica. E todos
os projetos perdidos no grande naufrágio, o encontro, a falta de razão. Um
simples motivo que desse a ignição, nem tão simples. Nossa alma clama por uma
história que toque os sentimentos, uma história de amor verdadeiro. Onde
encontrar o amor então? Ou seria ele que nos encontra? Procurando, procurando,
tinha apenas uma pista do que eu queria, mas aonde encontrar uma mulher tão
especial como a personagem perfeita de um romance? Uma mulher que
transparecesse a sensualidade, com olhos de felina, um olhar provocante e que
atiçasse as mais loucas fantasias, uma boca ávida? De um erotismo sem
procedências, completamente misteriosa, e que renovasse a minha alma tão
miserável? Estava completamente cético a respeito do amor e das relações
humanas. Um vazio que apenas o álcool era capaz de preencher.
Tinha
pensado em algo diferente nas últimas 24 horas, mas meu corretor ortográfico
corrigiu meus pensamentos. Fiquei sem ação, minha única vontade, o anonimato, a
escuridão das sombras, o desejo mecânico. Uso muito a expressão “mas”. Não sei
exatamente o sentido para tudo isto, nem ao menos esta ressaca absurda, já faz
oito dias que estou de ressaca, meu fígado deve estar um frangalho, tudo acaba
numa negação. Tento escrever uma linha coerente, e “bum!” E lá está outra negação.
Quero ficar esquecido apenas mais um pouco, dou uma olhada na cortina que não
deixa o sol entrar e fico imaginando como ela é minha amiga, poderia
simplesmente desaparecer neste sofá e tudo estaria resolvido. Mas ainda tinha
algo para ver. Precisava encontrar uma esperança.
O
telefone tocou, e tocou várias vezes até conseguir atender, enquanto meus
pensamentos se quebravam minha mão alcançou o aparelho, atendi.
-
Alô...
-
Poderia falar com o Sr. Paulo? – A voz do outro lado perguntou. Dava para
sentir que era uma frase que ela vinha usando há muito tempo, talvez apenas
trocando o nome. De forma mecânica.
-
Quem?
-
Com o Sr. Paulo, ele está?
-
Não estou escutando, pode falar mais alto?
-
Falar com o Sr. Paulo! Sr. Paulo! O senhor está escutando?!!!
-
Mas não tem ninguém com esse nome aqui!
-
Este não é o número do Sr. Paulo?
-
Eu Já falei que não!
Desliguei
o telefone, toda a atmosfera havia se dissipado naquela ligação idiota. Fiquei
curioso em saber quem era o Sr. Paulo, o sujeito estava devendo dinheiro para
algum banco, nunca me engano com aquele tom de voz e a palavra “senhor” antes
do nome já revela as intenções que correm do outro lado da linha. Eu estava
muito acostumado com aquele tipo de ligação, pelo menos umas cinco vezes por
dia eu recebia um “alô, poderia falar com o Sr. Jeux?” Só muda o nome como
disse antes, esqueci o que estava pensando. Dei uma boa olhada ao meu redor, as
paredes verdes da casa descascando, livros espalhados por todos os lados, meu
computador em cima da mesa perdido no meio de um mar de folhas, contas, algumas
garrafas vazias e um cinzeiro transbordando, pratos com restos de comida em
todos os locais que seriam possíveis deixar. Levantei e fui ao banheiro dar a
primeira mijada. A mijada que chamo de mijada de ouro. É sempre tão escura a
primeira urina! É difícil começar, mas depois que começa a sair é difícil
parar, dou uma sacudida e guardo meu amigo.
A casa tinha quatro
cômodos, banheiro, sala, cozinha e uma pecinha minúscula que deveria ser o
quarto, que estava continua................
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