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A
casa tinha quatro cômodos, banheiro, sala, cozinha e uma pecinha minúscula que
deveria ser o quarto, que estava servindo de depósito. Tudo que deveria ser
organizado, arrumado, que poderia ter alguma utilidade, ia sendo guardado
naquela peça. Para o dia que eu resolvesse organizar minha vida.
De
novo o aluguel estava atrasado. Puxei a descarga e vi a água se misturando com
minha urina cor de ouro descer pelo buraco do vaso, a louça do vaso branca
tinha uma mancha amarelada de urina. Já ouvi dizer que Coca-Cola é uma boa para
desentupir os encanamentos, caixa de gordura, sanitário e tudo mais. Baixei a tampa
do vaso enquanto a caixa d’água da descarga enchia, fui para a frente do
espelho e fiquei me admirando. Tinha um charme especial, rosto de bom garoto
com olhos de encrenqueiro, meu cabelo escuro e pele clara dava o toque, sempre
gostei de me vestir de forma básica, camiseta, Jeans, jaqueta, tênis. O básico
dos básicos. Tinha algumas camisetas brancas e algumas pretas, todas lisas,
nunca gostei de estampas e outras cores. E a famosa áurea de escritor que nunca
escreveu nada, nada que pudesse ser publicado, que tivesse algum valor. Eu
apenas sabia que um dia ia acontecer.
Estava
com a impressão que o telefone ia tocar de novo. O som que vinha da rua que
estava me dando nostalgia agora me criava certa angústia e ia ficando a cada
minuto mais forte. Posso ter ficado louco! - Gritei. Foi um grito
dentro da minha cabeça que não interferiu no tic-tac do relógio, mas mesmo
assim não me sentia seguro e muito menos à vontade comigo. Tinha a impressão
que todo mundo podia escutar os meus pensamentos. Voltei para sala e fiquei
andando, procurando o que fazer, passava a mão pelos livros espalhados,
folheava algumas páginas, mas não tinha vontade de ler. Sentei na minha cadeira
em frente ao computador, dei uma olhada no que estava na mesa, encontrei um
pedaço de sanduíche que já estava há alguns
dias debaixo de uma conta de luz. Comi o sanduíche, ainda estava gostoso.
Levantei e fui até a porta e dei uma olhada pelo olho mágico, não tinha nenhuma
mágica. Voltei em direção da mesa, me curvei e encontrei uma garrafa de vinho
dentro da lixeira ao lado da mesa, um bom vinho. Nem tudo que é caro é bom, e
nesta mesma lógica, aquele era um bom vinho barato. Meia garrafa de vinho é
tudo que um homem precisa para começar a ver a vida com uma perspectiva melhor.
Fiquei sentado no sofá ao lado do telefone, esperando a próxima ligação.
Bebendo e admirando a obra de arte que a umidade e o mofo estavam fazendo nas
paredes. Tinha uns desenhos interessantes de mofo misturado à tinta que ia se
desprendendo das paredes. Na parede do fundo, formou uma silhueta que lembrava
o colo de uma mulher que deveria ter boas ancas, parecido com aquelas fotos
preto & branco dos anos 1920 ou 1930. Não sei bem a época, mas aquelas
mulheres com curvas generosas, deliciosamente sensuais e volumosas. Quase
voltei a adormecer, fiquei cochilando no sofá.
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