Tédio seria a palavra mais
perfeita para definir aquele sarau, tudo cheirava a mofo e melancolia. Se
melancolia tivesse cheiro, cor e textura. Os aplausos tinham um som estridente
que ecoavam ao ridículo de um eco vazio. A alma humana às vezes é muito
medíocre. Junte um bando de cretinos numa sala e feche a porta.
Eu continuava bebendo e sorrindo, não tinha
nada para fazer naquele local. Talvez apenas o fato de querer participar
daquele grupo. Mas com o passar das horas eu via que tudo tinha o sentido de
uma anedota. Ágata apareceu no alto da escada vestindo um vestido longo e
justo. Um vestido vermelho que contrastava com sua pele morena clara e os
cabelos negros cacheados. Realmente deslumbrante e sensual, sua aparição deu um
novo sentido ao evento.
Ela desceu os degraus da
escada com tanta sensualidade. Simplesmente esqueci onde estava e o que
estávamos fazendo. Sua boca de lábios carnudos e o batom vermelho. Os pequenos
gestos que fazia com as mãos. Seus olhos vibrantes e verdes. Ela sorria com os
olhos. Exalava um perfume com seus gestos, que me contagiou.
Ela continuava descendo e seguiu caminhando
pelo salão passando por minha mesa e indo em direção ao pequeno palco. Fiquei
deslumbrado e tentado a saber mais a seu respeito. O vestido se moldava as suas
curvas, tinha os seios fartos e a bunda carnuda. O corpo de um violão como
diriam os antigos.
Uma mulher de uma beleza
antiga, cheia de curvas e sabores. Tirou a atenção do pobre poeta que tentava
choramingar um poeminha de amor boçal, transfigurado por algumas luzes falsas
de neon.
O palco também era outra coisa deprimente e
pobre. Tinha na sua decoração o mesmo mau gosto dos textos que ali estavam
sendo recitados. O que salvava era a bela bunda da poetisa e seu vestido
vermelho justo. Parecia que ela estava usando um vestido de borracha,
extremamente justo e provocante. Tinha algo de provocante em toda aquela cena
que me deixou constrangido com meus próprios pensamentos, enquanto os outros se
invertiam com a possibilidade de serem grandes.
Patrícia tinha salvado a
noite, comecei a ver tudo de maneira clara e objetiva.
Ela segurou o microfone e
falou o meu nome. Sai da minha mesa em sua direção, não sabia o que ela queria.
Apenas escutei meu nome e caminhei em sua direção.
As outras pessoas começaram
a aplaudir. Eu tinha vencido. Caminhei em sua direção, ia ser um espetáculo.
Eles iam ver como se faz.
Eu tinha sido um sujeito bom
aquele dia, tinha lavado a louça na casa da Joyce enquanto seu marido viajava.
Tinha feito outras coisas também na casa dela. Continuei o caminho da gloria, a
cada passo que eu dava sentia as minhas pernas mais pesadas. Minha cabeça
também começou a pesar e fiquei olhando meus pés. Não tinha reparado a
distancia antes do palco. Uma eternidade.
Ela sorriu pra mim, eu subi
no palco. Quando me virei para a platéia. Percebi que tinha uma platéia.
- É com grande satisfação...
ela disse.
Eu estava muito satisfeito,
por estar a seu lado, sentindo seu cheiro e vendo suas curvas.
- Prezado poeta amigo lhe
ofereço esta menção. Ela terminou.
Peguei a folha e dei uma
olhada, tinha ganhado não o primeiro lugar, ou o segundo, terceiro, quarto,
quinto.... Mas uma menção honrosa. Fiquei tomado pelo horror. Os aplausos não
paravam. E de repente parara. Ficou um silêncio e uma expectativa. Minha musa alcançou
o microfone. Olhei a platéia e disse: - Obrigado.
Fiquei petrificado no local,
não sabia que tinha tantos olhares para o palco. Não conseguia me mexer. Ela
apertou a minha mão e sorriu.
Ficamos segurando a mão um
do outro num longo cumprimento. Ela continuava sorrindo. Eu continuei apertando
sua mão. Continuamos parados. Baixei os meus olhos em direção aos meus sapatos
e desci. Mais uma eternidade se passou até eu encontrar a minha mesa. Alguns
comprimentos no meio do caminho. Consegui sentar e secar o meu copo. Estava
seguro novamente.
A festa continuou com mais
menções honrosas, todos ganharam alguma coisa naquele dia. Ela saiu no final
dos prêmios e voltou a subir as escadas. Uma bunda perfeita subindo degrau por
degrau.
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