Tudo
que eu posso querer é qualquer coisa a mais que eu não posso ter, mas esta
historia não é sobre mercado, liberdade, boas maneiras. Ou qualquer outra
coisa, é apenas uma historia sobre ligações telefônicas e um pouco de tapeação.
Nem tudo esta perdido, enquanto existir duas pessoas e um fio que as una.
Meu
mais novo amor me liga todos os dias, para dizer como as coisas estão. Eu me
pergunto por que ela não encontra alguém para trepar e me deixa escrever em
paz. Mas as coisas não funcionam assim. Eu também sofro de instintos básicos e
humanos. Trepar é como qualquer outra coisa, uma cagada logo sedo quando se
acorda ou um bom bife no almoço. Ela insiste que pode me ajudar. Mas quem disse
para ela, que deveria ser uma maldita boa alma e atrapalhar a minha vida com
coisas tão banais.
-
Alo amor, como foi seu dia? Sua voz doce e melada fala do outro lado da linha.
-
Foi algo bom eu acho. Respondo e tento desligar.
- Você
já conseguiu escrever alguma coisa?
-
Alguma coisa.
- Você
esta chapado? Ela continua o interrogatório.
- E você
esta? Retruco.
- Você
anda estranho, - ela disse – o que aconteceu?
- Eu
sou estranho! Respondo e desligo.
Onde
eu estava há esta hora a um ano atrás. Tento me lembrar, onde estava e o que
estava fazendo, mas tenho a sensação de sempre estar aqui. Não existe nada mais
chato do que uma pessoa que se acha ter bom coração. São pessoas muito
pretensiosas, elas acham que são necessárias e que estão fazendo a coisa certa.
Mas ninguém esta certo, não às 9 horas da manhã de um domingo. Quem liga a esta
hora, para a casa de quem quer que seja. Lembrei que andávamos apaixonados, e
tinha mais este negocio do sexo que era sempre bom. Fazia sentido ela ligar.
Você
tem que entender que ela era meio tipo uma bruxa ou vidente, bastava me
aproximar do computador, ter uma leve sensação de ter ou poder ter alguma idéia.
E a porra do telefone tocava. Já nem era mais necessário perguntar quem era. Sempre
tínhamos uma conversa vazia sobre o tempo e o fato de não conseguir escrever
nada, e de como ela queria me ajudar. Estava começando a cogitar a idéia de
jogar o telefone pela janela, ou quem sabe seria melhor jogar ela pela janela. Aproximei-me
da janela e dei uma olhada para baixo. Não ia funcionar moro no primeiro andar.
- Oi
amor, tudo bem?
-
Quem bom, que ligou.
- Você
gostou amor? – ela disse – Posso ir ai hoje?
- Você
esta na cidade, - eu disse – e nem avisou.
-
Mas acabei de chegar...
-
Legal!
Tinha
que dar um jeito no apartamento, algo do tipo sumir com tudo que pudesse servir
para o inicio da terceira guerra mundial. Fiquei mais uns minutos sentados no sofá
ao lado da mesinha do telefone, pensando por onde começar. Comecei abrindo uma
garrafa de uísque que estava em baixo da mesa. Tudo estava mais ou menos em
ordem, comecei a beber. E a sensação do álcool serviu como um relaxante muscular.
À medida que ia bebendo as coisas iam se ajeitando. Toda aquela excitação foi
passando e conseguia ver as coisas com um olhar mais critico. Afinal o que
estava fazendo e porque estava preocupado. Estou ficando velho para este jogo. O telefone tocou de novo.
- Você
não vai vir me buscar?
-
Onde você esta?
-
Onde deve estar uma pessoa quando chega à cidade, - ela disse meio enfezada –
na rodoviária, é lógico.
- É lógico,
- eu respondi – e você quer que eu a busque.
-
Sim, né!
-
Sim entendo, mas não posso.
- Você
esta com alguém?
-
Não é isto... Antes que eu terminasse, ela bateu o telefone.
Voltei
a beber, pensando que não seria uma boa idéia a deixar esperando, mas como iria
sair. Tinha que arrumar o apartamento e alem do mais já tinha bebido demais
para poder dirigir. Estávamos tendo algum tipo de crise, ela estava muito
segura de que algo estava errado. Sei o que ela estava pensando. Ciúme de um
sujeito como eu é a pior falta de opção, sou muito tranqüilo e depois a
preguiça não me deixa fazer nada alem de ficar na minha volta. Adoro ficar
andando em minha volta. A menos de um mês
tinha sido acusado de ser um porco, machista, alcoólatra e sem vergonha, que
vivia iludindo as garotas com poemas idiotas e apaixonados. Que era um tipo bem
pior de amante do que aqueles que apenas transa e depois vai embora. Sempre fui
romântico a minha maneira, e não gosto de relacionamentos rápidos e sem dramas.
Tudo bem, talvez eu seja um tanto
exagerado e às vezes desonesto, mas sempre tento ser um bom sujeito, a minha
maneira. Ela voltou a ligar.
- Você
vai vir! Ou tenho que chamar um taxi!
- Um
taxi parece ser uma boa.
-
Vem já me buscar, seu idiota!
Ela estava
braba e bateu o telefone de novo, fiquei cogitando que não poderia ir buscar
ela e nem receber a sua visita. Dei uma olhada na garrafa e já estava na
metade. Como consigo beber sem perceber o quanto bebo, é um mistério. Preciso esconder
meus comprimidos, da ultima vez que ela me visitou sumiu duas cartelas cheias. Ela
é do tipo geração saúde, que se cuida, vida saudável. Mas desconfio que ela pegue
as cartelas....
- O
que foi agora? Perguntei.
-
Ainda estou lhe esperando, - ela disse – se não vir vai ver quando eu chegar.
- Estou
louco para te ver, pegue um taxi.
- É
muito engraçadinho.
-
Acha...
Em pouco
tempo teríamos novidades no paraíso, ela deveria estar vindo. E quem pagaria a
corrida. Estava sem dinheiro e uma garrafa vazia na mão. Acendi um cigarro e fiquei esperando. Acabaríamos começando nosso pequeno show de
horror, uns gritos, tapas, alguma coisa quebrada. E depois uma boa trepada para
fazermos as pazes e voltar tudo ao normal. Não parecia ser tão ruim afinal de
contas ela é uma mulher bem gostosa. Dormi
com aquele pensamento no sofá, e quando despertei senti que tinha um cobertor
me cobrindo. Abri os olhos e vi que o telefone continuava no mesmo lugar apenas
o fone estava fora do gancho. Sempre no final o paraíso não parece ser um lugar
tão estranho. Mas é monótono.
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