06
As pessoas ficaram
aglomeradas na frente da capela, ninguém tinha entrado na capela. Todos
conversavam ao mesmo tempo, o som das conversas misturadas, parecia um zumbido
de um enxame de abelhas confusas.
- É espantoso – eu disse.
- O quê? – ele perguntou.
- Ninguém esta entrando
na capela.
Um sujeito saiu da frente
da capela e veio em nossa direção, meio que cambaleando e com uma expressão
nauseada.
- Ei, você! Gritei para o
sujeito.
Ele parou ao nosso lado,
ainda tapando o nariz com uma das mãos.
- O que esta acontecendo?
Perguntei.
- Não da para entrar na
capela, o cheiro é insuportável. Respondeu e continuou andando até conseguir se
apoiar no primeiro carro e vomitar.
Caminhei abrindo caminho em
direção à capela, andando no meio da multidão que parecia estar em um estado de
choque. O horror e a expressão de repulsa em seus rostos. Enquanto seguia em
frente, foi como se o som de suas vozes ia desaparecendo, tudo que eu via eram
apenas rostos distorcidos, sem nenhum som. Os que estavam na porta se equilibrando contra
a pressão que os de trás impunham. Apenas me prepararam para o que viria a
seguir. Entrei na capela e meus pulmões se encheram daquele fedor nauseante e
familiar. O caixão ainda permanecia lacrado. Nem a viúva conseguiu se
aproximar. E o silencio era absurdamente constrangedor. Dei meia volta e sai.
Encontrei os pedreiros e
expliquei a situação. Eles providenciaram um carrinho que parecia mais ser uma
maca enferrujada, para colocarmos o caixão em cima. Conseguiram também algumas
mascaras. Uma das mulheres do cortejo conseguiu um vidro de perfume.
Encharcamos as mascaras com perfume. Gesticulei para todos irem à frente e
ficarem esperando na frente do mausoléu da família. Os dois homens colocaram as
mascaras, apenas os olhos aparecendo, imóveis. Esperando o meu comando. Fiquei
olhando a minha mascara e pensando sobre o absurdo de toda a situação. O cheiro
do perfume era exageradamente forte. Tínhamos que fazer aquilo mesmo?
Entramos, colocamos a
maca ao lado do caixão. O perfume tinha impregnado minhas narinas, me
sufocando. Retirei a mascara e para minha surpresa. O único cheiro era do
perfume. Não tinha nenhum outro cheiro na capela. Os pedreiros também tiraram
as mascaras.
- Pensei que o cheiro
fosse insuportável? Um deles falou.
- Eu sei, mas não sei o
que aconteceu.
- Vocês são muito
exagerados – ele continuou -, o coitado nem esta fedendo.
O outro completou – vamos
de uma vez. Tenho mais o que fazer.
Colocamos o caixão na
maca, e seguimos pelo corredor.
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