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DICA DO DIA

Terceiro capitulo - novela - negociante de almas - Röhrig C. - lançamento 2015 - livro



03
No dia seguinte.
Eu tinha chegado cedo ao cemitério, não havia mais ninguém na capela, apenas o caixão lacrado. Ainda faltavam duas horas antes do enterro que estava Marcado para as 10h30min.
A temperatura tinha mudado, o céu estava encoberto. Densas nuvens bloqueavam o sol. Não era de se duvidar que logo fosse começar a chover. Parecia um dia típico de funeral, um dia feio e sombrio.  É como se o céu estivesse reverenciando o morto.
Como pode tudo acabar assim? Toda a corrida e pressa em conquistar, mais e mais poder. E de repente o sujeito se encontra dentro de um caixão, numa capela vazia. Aguardando para ser enterrado e esquecido. Ele teve uma vida aparentemente boa. Realizou todos os sonhos. Todos os sonhos? Uma vida plena? É possível? Não para ele, tinha muita ambição. Eu tenho muita ambição. Ali estava eu, com 30 anos, e sem uma perspectiva do que poderia fazer de minha própria vida. Ele tinha chegado ao fim, eu não sabia onde estava. E ainda tinha tempo pra chegar lá. A dois dias atrás ele deve ter pensado a mesma coisa.
A vida é estranha, não é? Um sujeito rico lacrado dentro de um caixão, enquanto outro miserável fica observando do lado de fora. Qual seria a relação dele com o outro sujeito? Ângelus, nome estranho. O sujeito tinha uma aparência formal e ilustre. Um aristocrata em pleno sec. XXI. Sua personalidade e maneiras não combinavam com a miséria do local. Uma cidade de pessoas muito simples e sem grandes desejos. Ele deveria estar mentindo, eu nunca o vi antes. Ele é daquele tipo que ninguém esquece, muito diferente, se destaca na multidão.
Eu precisava de respostas, fiquei curioso. O Anderson, nunca tinha me comentado de onde vinha todo seu dinheiro, sempre achei que fosse de alguma herança. Dinheiro de família. As respostas estavam agora ali dentro daquele caixão. O outro sujeito tinha ido embora e provavelmente não iria aparecer para o sepultamento. Fiquei esperando os parentes e amigos chegarem. Encostado na porta, vi quando os pedreiros, passaram com um carrinho cheio de ferramentas e duas pás. Precisavam organizar tudo para a cerimônia final.
O telefone tocou, retirei do bolso da calça, atendi.
- Pedro – disse. É você Rodríguez?
- Aqui é Bernardo Voltolini – disse a voz.
- O que foi meu amigo?
- Apenas liguei para saber se esta tudo saindo de acordo, com o que foi contratado.
- Eu não sei o que foi contratado, mas parece que esta tudo correndo dentro do esperado. Não posso dizer que esteja tudo bem, por causa da situação. Esta de acordo.
- Não consigo falar com os pedreiros, os enxergou por ai?
- Acabaram de passar em direção ao mausoléu da família.
- Me faz um favor fica de olho neles, sabe como são lerdos. É capaz de o finado apodrecer do lado de fora e eles ainda nem abriram a passagem.
- Estou esperando alguém da família chegar aqui na capela, assim que alguém aparecer eu vou lá dar uma olhada. Ainda temos tempo, é cedo.
- Eu conheço estes caras, eles são muito lerdos. Não da pra relaxar, fica de olho!
- Pode deixar.
- Estou mandando a tarde a pedra nova, ficou bonito. Um granito preto e as palavras em dourado. Não mandei antes porque o fotografo não entregou a foto. Mas igual ia ter que esperar o cimento secar dos tijolos, para fixar a tampa. Coisa de primeira linha.
- Nosso amigo merecia mesmo.
- Eu não sei se ele merecia, apenas fiz o trabalho. Quero apenas receber o meu dinheiro. Deixou uma viúva gostosa o coitado.
- E como vão os serviços?
- Esta época o ano é complicado, só morre mesmo quem esta doente. No verão e nos feriados o fluxo é melhor. Mas acredito que este ano os negócios vão melhorar. Tem muito adolescente curtindo festa de carro, e isto da uma incrementada nas vendas. E os pais sempre querem o melhor para os filhos, sabe como é.
- Cada um com a sua profissão, meu amigo.
- Da uma olhada nos caras para mim, confio em você.
E desligou.
Fiquei observando os pardais tomando banho de areia no saibro. Bom, que a temperatura estava amena. Deve ser muito ruim enterro em um dia de sol e tempo limpo. O calor abafado, e ter que vestir terno em qualquer época do ano já é um sacrifício. Mas terno escuro em tempo bom não combina. Não entendo porque de toda esta formalidade. É uma combinação de ostentação e dor. Se um conhecido morre, parece uma obrigação ter que ir se despedir. Como se o defunto fosse se importar. É lógico existe sempre a família, e é bom dar um apoio. Mostrar alguma gentileza, ser cordial e amável. Tem pessoas que levam ao estremo. Nem conhecem direito o morto e sua família. E dão um espetáculo. Ontem até que todos estavam coerentes, vamos ver hoje. Sempre se pode ter uma surpresa.
Um dos pedreiros voltou e passou pela porta. Acenando.
- Já está quase tudo pronto! Gritou. – Só vou pegar mais uns tijolos!
Peguei uma cadeira de dentro da capela, e me sentei do lado de fora. Parecia que as horas não passavam. Fiquei arrependido de ter chegado tão cedo. Mas alguém tinha que estar ali. Acendi um cigarro, e voltei a olhar para os pardais. Pássaros de sorte – pensei. – Para eles não existe esta coisa de céu ou inferno. É apenas a vida.

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