09
Procurei o Padre na casa
paroquial. Ao lado da igreja. A pequena casa de madeira, cercada por um belo
jardim de rosas vermelhas. O Padre estava entre as roseiras, colhendo algumas
flores. Parecia um corvo no meio de uma plantação de milho. Rosas vermelhas.
Aproximei-me dele e o cumprimentei.
- Boa tarde; Padre.
- Boa tarde meu filho, -
ele disse – no que posso ajudar?
- O senhor já esta há
muitos anos aqui na comunidade.
- Sim, meu filho. Se não
me engano realizei o seu batismo.
- Eu sei. Por isso vim
conversar com o senhor.
- Triste o que aconteceu
com o Sr. Anderson.
Ele colocou as rosas no
cesto de vime e retirou as luvas. Apertamos as mãos.
- Foi uma bonita
cerimônia.
- Mas o que você quer
saber?
- O senhor conhece todas
as famílias da cidade.
- Nem todas. Hoje em dia
tem muitas famílias novas e as antigas, muitos já não veem mais a igreja como
antigamente. São terríveis estes tempo. Como as pessoas se desviaram do
caminho.
- O que preciso saber é
sobre uma das famílias mais antigas da região.
- E o que deseja saber
meu filho?
- Conhece bem a família
dos Baum?
- Vamos entrar meu filho.
Ele falou e deu uma
olhada em volta. Recolheu o cesto do chão e disse:
- Vamos para dentro, não é
seguro conversarmos aqui.
Entramos pela porta da
cozinha, o padre largou a cesta na mesa.
- Vou preparar um chá,
você quer?
- Obrigado Padre, - eu
disse – mas prefiro um café. Se não for incomodo.
- Não é nenhum incomodo
meu filho. Vou preparar.
Eu observava os moveis e
utensílios antigos, enquanto ele aquecia a água para preparar as bebidas.
- Sobre o que gostaria de
falar mesmo?
- A família Baum, Padre.
- É mesmo.
- Sim, o que o senhor
sabe a respeito deles?
- O que você quer saber?
- Existe algo e errado
com eles.
- Como assim?
- Não sei, é por isto que
estou aqui...
Ia contar para o Padre a
respeito da conversa com o agente funerário, mas algo me dizia que deveria
manter em segredo. Bernardo não tinha pedido sigilo, mas achei que seria bom
ter uma carta na manga. O Padre poderia não saber do que eu suspeitava, e ia
acabar ficando confuso. Tinha que primeiro saber o que ele sabia.
- É uma boa família, eles
sempre vêm à igreja. Estão sempre ajudando nas obras e reformas. Não tem nada
de anormal, ou que os desaprove. E você o que anda fazendo? Faz tempo que não o
vejo na missa?
Ele parecia querer mudar
de assunto, como se tivesse pensado melhor.
- Mas o senhor tinha algo
para me dizer lá fora.
- Porque você acha isso
meu filho?
- O senhor falou que não
era seguro.
- Ah isso, mas não tem
nada a ver com os Baum. Apenas o sol esta muito forte na rua, e não é seguro
ficar conversando parado em baixo do sol. Hoje em dia o sol está muito
perigoso.
- O senhor tem certeza?
- Claro meu filho. Tenho acompanhado
as noticias, o sol anda venenoso. Temos que ter cuidado.
- Desculpe então. Devo ter
entendido errado.
- Adoçante ou açúcar?
- Pode ser com açúcar. Três
colheres pequenas.
Mas ele não me convenceu,
com a história do sol. Precisava achar uma maneira de provocar alguma reação.
- O senhor conhece um
sujeito chamado Ângelus?
Quando pronunciei o nome
ele deixou a xícara cair no chão.
- Merda...
- O que o senhor disse?
- Não o conheço.
- Tem certeza?
- Meu filho já esta
tarde. Tenho que arrumar esta bagunça e preparar a missa de amanhã. Você vai
vir?
- Posso lhe ajudar.
- Não precisa esta tudo
bem. Apenas vou limpar essa bagunça.
- Mas...
- É melhor ir.
Praticamente ele me enxotou
da casa paroquial. Mas agora eu sabia que existia algo.
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