03
Senti alguém colocar a
mão no meu ombro, me virei.
- Grande Alfredo! Ele
disse.
- Que mundo pequeno
Daniel.
- O que esta fazendo
aqui?
- Recebi um convite.
- Nunca poderia imaginar
lhe encontrar numa festa dessas.
- Para você ver a gente
nunca sabe do que é capaz, até fazer. E você como vai?
- Estou bem, agora voltei
para ficar.
- Estava viajando?
- Já faz o que, uns dois
anos que não nos vemos.
- Não me lembro.
- Tive uma proposta de
uma empresa noutro estado. Mas acabou que não valeu a pena. Continua pintando?
- As vezes...
- Não sabia que você
conhecia a Monica.
- Nem eu.
- Você continua o mesmo.
- Apenas um pouco mais
velho.
- Fiquei sabendo que você
andou meio doente.
- Uma bobagem...mas agora
já estou bem.
- Que bom saber meu
amigo. Quer se reunir com nossa turma estamos na outra sala.
- Estou esperando alguém.
- Alguém conhecido? Qual
o nome dela?
- Não é o que esta
pensando.
- Vamos lá o pessoal vai
gostar de te ver.
O garçom passou e
abastecemos os copos. A cerveja estava na temperatura ideal. Daniel também era
um bom bebedor de cerveja. Eu o conhecia desde o tempo da faculdade. Ele pelo
menos ainda tentava manter-se na área. Eu depois que terminei o curso, voltei a
pintar. Apesar das aparências e gentilezas nunca Fomos grandes amigos. Éramos
bem cínicos um com o outro. Era transparente a competição entre nós. Ele falava
e eu não escutava, eu falava e ele não escutava. Queríamos apenas falar.
- A Monica é uma mulher encantadora,
não acha? Ele perguntou.
- Deve ser sim.
- Incrível você ser amigo
dela.
- O que tem de incrível
nisso?
- É que você não parece
ser o tipo de pessoa com quem ela se relacionaria.
- Quer ver o convite?
- Desculpe Alfredo, não
quis lhe ofender. É que não sei, mas não combina.
- Eu sei, nunca gostei
dessas festas. É o tipo de festa mais a sua cara.
- Lembro-me que você
nunca foi muito sociável. Mudou muito.
- Foi apenas um convite.
- E você continua meio de
canto. Hehehe. Vamos lá para a outra sala.
- Depois eu apareço.
- Vamos esperar, foi bom
te ver.
- Igualmente.
Lembrei o porquê de não
sermos grandes amigos. E o porquê de eu sempre evitar pessoas como ele. Agora
estava me sentindo cercado de todos os lados. Perto da mesa tinha uma lareira,
com vários porta-retratos. Aproximei-me da lareira e comecei a olhar as fotos.
Fotos de família, viagens, amigos, animais de estimação. Tinha foto da Monica e
da Caroline abraçadas como boas amigas. Uma foto antiga delas. As duas já
deveriam se conhecer a muito tempo. Estavam felizes naquele dia. O lugar
parecia um parque, uma praça, bem ampla. Não conheci aquele lugar. Pela foto
deduzi que elas eram amigas de infância. Faz sentido, do contrario Monica
talvez não convidasse Caroline para a festa. Monica não parecia ser o tipo de
pessoa que convida a secretaria para uma festa em sua residência.
- O senhor aceita mais
uma cerveja? O garçom perguntou.
- Claro meu amigo, pode
encher. É de graça mesmo.
Ele sorriu e encheu o
copo pela metade. Baixei o copo para ele terminar de encher.
- Obrigado.
- Por nada senhor.
- Quando voltar por estes
lados não se esqueça de reabastecer.
Ele acenou com a cabeça,
como quem diz sim. Eu deveria ser o cliente numero um. Os outros convidados
apenas seguravam os copos, cheios de cerveja quente. Era apenas mais um adereço
em suas mãos. Estas festas de aparência são engraçadas. É como um grande circo.
Todos fingindo serem super educados e cordiais. Mas no intimo estão apenas
planejando e fazendo pequenos comentários maldosos, uns dos outros. O velho e
bom pão e vinho. Uma combinação de diversão e nojo. Caroline estava demorando.
A garota já deveria ter ido embora e me deixado a mercê daquelas outras
pessoas. Comecei a me entediar olhando as fotos. O lado bom é que ninguém se
aproximava. Podia ficar ali bebendo tranquilo e apenas observando o lugar. Mas
Daniel estava realmente querendo que eu fosse até a outra sala. O sujeito
voltou.
- E ai, nada da garota.
- Ela acabou de sair. Eu
menti.
- Essa garota parece um
fantasma.
- Vai ver ela é mesmo.
- Vamos lá, já falei para
o pessoal que você está aqui sozinho.
- Eu não estou sozinho.
- Tudo bem, mas vamos lá.
Ele não parava de
insistir, se eu o não conhecesse bem. Acharia que ele estava tentando ser
legal.
- Para que eles querem
uma lareira tão grande.
- Tem estilo.
- É um exagero!
- demonstra que eles têm
dinheiro.
- Se eles queriam um
lugar para colocar os porta-retratos, podiam ter colocado uma estante.
- Mas assim fica mais
chic.
- De repente você tem
razão, não me interesso muito por moda.
- Então?
- Então, o que?
- Você vem?
- Depois...
- Sabe onde fica o
banheiro?
Eu sabia o lado onde
deveria ficar. Ele teria que seguir pela mesma porta que Caroline sumiu.
Mostrei para ele a direção. E comecei a olhar em volta procurando o garçom. Ele
deveria estar servindo na outra sala. Fiquei esperando. Perto de onde eu estava
um casal começou uma discussão. A mulher estava completamente alterada enquanto
o sujeito tentava acalma-la, sem chamar a atenção. Outras pessoas também
olhavam a cena. O sujeito não estava conseguindo disfarçar. Enfim teríamos
alguma ação de verdade. Fiquei esperando a hora em que ele não fosse mais
conseguir conter a mulher. O que poderia ter provocado aquela discussão? Não
importa. O fato é que a cena era mais importante. Ninguém estava querendo saber
o que tinha provocado. Apenas aguardavam a discussão ficar mais calorosa e tudo
virar chamas. Mas a mulher foi se acalmando. Dava para vê-la engolindo as
lagrimas e os soluços. Enquanto o sujeito lhe dizia algo ao ouvido. Ficaram os
dois frios como estatuas. E as outras pessoas voltaram à atenção a seus
grupinhos e conchavos. A festa continuava.
O nível musical da festa
estava descendo, começaram a tocar musicas sertanejas. A mágica dos anos 80
tinha sumido. Foi bom enquanto durou. Bem-vindo 2015.
Comentários
Postar um comentário