“Você vai se surpreender com o final dessa historia. O que poderia ser apenas um convite para uma festa chata e fria, pode-se se tornar numa experiência única.”
02
Ela ficou ajeitando o
cabelo, não conseguia decifrar se ela estava interessada ou se sentindo
incomodada com a minha presença. As mulheres deveriam vir com um manual dentro
da bolsa. Já que elas carregam tantas coisas, um manual seria bem útil. Quanto
mais ela mexia no cabelo, seu perfume se espalhava. Um cheiro muito bom.
- E o que estamos
comemorando?
- Não acredito que você
não saiba.
- Estou sendo sincero, eu
vim em uma viajem as segas.
- Percebesse. É o
aniversario da Monica.
- Legal, adoro bolo de
aniversario. Hehehe...
- Você é um comediante,
mesmo.
Ela continuou rindo.
- Sou esforçado.
- Estou vendo.
Uma risada ao mesmo tempo
meiga e debochada.
- Mas falando serio, o
que você faz?
- Ainda não sei...
- Serio mesmo, o que faz?
- Tento pintar uns
quadros, sabe como é.
- Interessante.
- Às vezes é sim, mas tem
outras vezes que não sei muito bem o que estou fazendo.
- Você já fez alguma
exposição? Onde posso ver suas obras?
- Ainda não fiz, apenas
vendo algumas telas para amigos.
- Queria ver as suas
pinturas.
- Podemos marcar alguma
coisa.
- Ótimo!
- E você conhece todo
este pessoal que esta na festa.
- A maioria sim, do
escritório da Monica.
- O que ela faz mesmo?
- Ela trabalha com
fotografia, tem um estúdio no centro.
- E você?
- Trabalho com ela, por
isso acho estranho nunca ter te visto antes.
- Parece mesmo, mas fico
feliz em te conhecer.
- Sim, também gostei de
te conhecer.
- Parece que vamos ter um
brinde.
- Por quê?
- O garçom esta
distribuindo algumas taças de champanhe.
Mostrei-lhe o garçom que
vinha em nossa direção.
O garçom tinha entrado na
sala carregando uma bandeja com taças de champanhe. Distribuindo entre os
convidados. Larguei meu copo de cerveja e peguei duas taças, uma para mim e a
outra para a garota.
- Obrigada, mas não bebo.
- Mas apenas para o
brinde.
- Quem sabe outro dia.
- Tudo bem, eu bebo por
nos dois.
Coloquei uma das taças na
mesa, e ficamos esperando. Ela ajeitou a alça da blusa que estava escorregando.
Uma blusa de seda, com alças finas. Parecia que estava sem sutiã. A blusa
deixava transparecer todas as curvas e o volume de seus seios rígidos. As
pessoas agora estavam se aglomerando num dos lados da sala. Imaginei que
deveria estar ali a aniversariante. Alguém deveria fazer um discurso.
- Acho que estamos
chegando ao auge da festa. - eu disse.
Ela virou-se para o outro
lado, como se procurasse algo.
- Eu já volto. Ela disse.
- Aonde vai?
- Preciso ir ao toalete.
- Vai perder o brinde.
- Eu não demoro, e você
já esta com nossas taças – ela disse -, não é mesmo.
- Ok!
A garota fez a volta na
mesa e saiu pela outra porta. Nenhum dos outros convidados percebeu, estavam
todos olhando para o mesmo lado. Esperando o brinde.
Alguém no meio da
multidão gritou.
- Um momento! Um momento!
- Onde esta nossa querida
anfitriã?
As pessoas ficavam
olhando em volta como se a procurassem. Do outro lado do salão entrou uma linda
mulher, loira, alta, vestindo um vestido vermelho. Ela atravessou o salão com
imponência e delicadeza. Com um ar de superioridade. Um sorriso educado e
falso. Aquela deveria ser a Monica, pensei. Tinha os traços do rosto parecidos
com o de Caroline, mas a personalidade era o inverso da outra. Foi uma entrada
triunfal. Quando as pessoas perceberam sua aproximação começaram a bater
palmas. E abrir caminho para ela passar.
- Ai esta ela!
- A mulher mais adorada
da cidade. Minha querida esposa!
Ela se aproximou e beijou
o marido. Um beijo de aparências formais. Um leve tocar de lábios.
- Obrigado, querido. Ela
disse.
Os aplausos continuaram. E
o marido interrompeu mais uma vez, dando continuidade ao discurso. Que se
seguiu ao ápice quando todos levantaram suas taças e brindamos a vida longa da
aniversariante. Caroline tinha perdido tudo aquilo. Eu suportei bravamente
apesar de sentir náuseas desse tipo de demonstração publica de afeto. Não sou
muito chegado a firulas e outras delicadezas. Na verdade sou um sujeito bem
grosso. Senti um alivio quando vi voltando-a.
- Pensei que tinha me
abandonado?
- Desculpe querido.
- Eu já estava quase
fugindo.
- Porque veio? Se não
gosta de festas, deveria evitar.
- Eu sei, mas algo me
disse que deveria vir. E foi bom ter vindo, apesar de não gostar.
- E porque acha que foi
bom ter vindo.
- Se eu não tivesse vindo
não teria lhe conhecido.
- Você é gentil.
- Estou sendo sincero, só
o fato de te conhecer já valeu a pena.
- Obrigada.
Ela agradeceu e ficou com
as maças do rosto levemente coradas.
- Mas você perdeu o
brinde.
- É parece que sim.
-Tive que tomar as duas
taças de champanhe.
- Que sacrifício,
coitadinho.
- Quem esta sendo irônico
agora.
- Estou apreendendo com
você, heheh.
Começamos a rir.
Não sou do tipo que
acredita em amor à primeira vista. Mas, pode ser que eu esteja enganado. Estar
ali conversando com ela parecia mágico. Parecia que estávamos apenas os dois.
Caroline me fazia sentir a vontade. Aumentaram o volume da musica e alguns
casais começaram a dançar no meio da sala. O garçom trazendo mais bebido,
bebida e comida de boa qualidade. A anfitriã podia ser uma esnobe, mas com
certeza sabia dar uma festa.
Ela segurou meu braço e
sussurrou em meu ouvido.
- Vamos dançar...
- Eu não sei, sou meio
duro.
- Não se preocupe.
-É...
- Ninguém vai reparar,
estão todos se divertindo.
- Tudo bem.
Passei meus braços por
sua cintura, ela passou os delas pelo meu pescoço. E começamos a dançar na
volta. Meus joelhos duros como cerne, ela tentava fazer com que me soltasse. E
continuava falando palavras em meu ouvido.
- Você sabe dançar,
estava escondendo o jogo.
- Agora é você que esta
sendo gentil.
- Que perfume esta
usando.
- Não lembro o nome,
gostou?
- Sim, gosto desse cheiro
amadeirado.
- Também gosto.
- E você gosta do meu.
- Sim, muito.
Acho que desde os anos
80, não tinha ido a mais nenhuma festa que se pudesse dançar junto. Em pleno ano
de 2015, e lá estava eu dançando de novo juntinho com uma mulher incrivelmente
encantadora. Depois de tantos modismos e estilos malucos de festas. Estava
voltando no tempo. Parecia que estávamos nos anos 80. A música era dos anos 80.
Uma sensação incrível poder sentir o calor do corpo dela, os batimentos do
coração, sua respiração tão próxima. O som da sua voz, encostar meu rosto
naquela pele tão macia. Morri e fui para o céu.
- Eu queria que esta
noite nunca terminasse. – ela disse.
- Também gostaria.
Ela estava sendo sincera,
dava para sentir em sua voz e olhar. Algo estava acontecendo entre nós. Eu
também estava sendo sincero. E aquilo me assustava. Como pode duas pessoas que
não se conhecem, que nunca se viram. E de repente parecemos tão íntimos e
ligados. Como se já nos conhecêssemos muito bem. Algumas pessoas chamam isso de
química, paixão. Eu apenas estava assustado. O mundo poderia parar ali.
Perfeito.
- Eu não quero que acabe
nunca esta noite.
- Mas já esta começando a
ficar tarde.
- Por onde você andou
todo este tempo?
- É incrível, nunca
termos nos encontrado antes.
- Quero me encontrar com
você amanhã....e depois....
- Não sei se será
possível.
- Por quê? O que lhe
impede? Você tem alguém?
- Não é isso.
- Então o que é?
A música terminou, e
voltamos para próximo da mesa. Ela parecia meio perturbada com a minha
insistência. Como se estivesse escondendo algo. Comecei a imaginar que ela deveria
ter um namorado, ou pior, podia ser casada. Eu não me importava em ser amante dela.
Apenas não queria perde-la.
- Me fala apenas o numero
do seu telefone? Eu não vou ligar, prometo.
- Não tenho telefone.
- Posso ligar para o estúdio
amanhã.
- Você acabou de falar que
não ia ligar.
- Mas o estúdio é um local
publico.
- Eu procuro você.
- Você me procura? Quer o
numero do meu telefone?
- Não precisa, tenho na agenda
do escritório.
Quanto mais difícil ficava
e misteriosa, mais eu me perdia nela. Começava a achar que poderiam existir almas
gêmeas. Caroline pediu licença, para ir falar com a anfitriã. Aproveitei para pegar
outra cerveja com o garçom.
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