Ficção ou realidade? A realidade
nada mais é do que a ficção que construímos ou somos induzidos a construir. O pensamento
deveria ser algo individual, apesar de ser construído de forma coletiva. A verdade
também é algo muito pessoal. Cada ser tem sua percepção própria do mundo. Inclusive
neste texto, a falta de memória, ou de interesse. Pois o personagem fala que
não se lembra do nome, mas será que ele perguntou o nome? É uma informação
importante mesmo? Ou existem outras coisas mais importantes.
O homem pensa na natureza
como algo equilibrado, mas o que sustenta a natureza é o caos. Sem o caos não teríamos
a falsa impressão de equilíbrio. As regras servem para dar esta ilusão. Quando um
ser contesta a realidade de outro, na verdade ele esta tentando impor a sua
realidade, em detrimento de tentar apenas respeitar a realidade do outro. Nem digo
entender, pois entender já seria algo muito mais amplo, e tenho muitas duvidas
que isto possa ser possível em sua essência. E o fato de analisar apenas um
episódio isolado, não proporciona embasamento suficiente para se tirar alguma
conclusão. E é lógico trabalhamos com símbolos para simplificar as coisas e
existir a possibilidade de um dialogo. Então se trabalhamos com símbolos para
existir um dialogo, o nosso conceito do que é aceito como verdade, é apenas um
acordo.
Outra coisa, eu dou ênfase na
palavra sexo para materializar o ato em si (apesar de ilustrar de forma que
possa parecer que existe certo romantismo). As outras palavras: amor, carinho, tesão...
serve apenas para ilustrar o sentimento gerado pelo ato.
Entende-se que a atração de
dois animais de sexo oposto ocorre pelo único interesse de perpetuar a espécie.
O macho sente atração pela fêmea que tenha atributos para gerar filhotes saudáveis,
e a fêmea sente atração pelo macho que possa garantir a segurança do grupo. O ser
humano tende a fantasiar esta necessidade básica, dando valores inventados e
aceitos pelo grupo. O que ocorre hoje é que criamos muitos atributos
artificiais e bagunçamos tudo, enfraquecendo a espécie. Esta é a parte nua e
crua da genética.
Pelo lado sentimental, o
texto começa e paro deixando como algo solto, daí eu entro na brincadeira do
sonho, do momento ideal....e extrapolo os sentimentos, mas de forma superficial.
E fico brincando com a relação do ato e
do sentimento do ato, é um jogo. Vou escrevendo de forma cortada, que é outra
brincadeira com o ritmo.
No final do texto eu entrego
o jogo, quando digo que gosto de relacionamentos mais intensos, com maior
cumplicidade.
E ao mesmo tempo o texto é uma
critica aos relacionamentos mecânicos, as interpretações individualistas, ao
imediatismo da leitura. Entre outras cartas que eu guardo na manga. Escrever para
mim é um jogo de vários níveis e dimensões. Muitas vezes o que estou dizendo
não esta no texto, mas na provocação. No que não está escrito. Desconfie de
tudo que seja muito simples.
Ontem eu li uma frase incrível
que eu ainda não conhecia “ Só dez por cento é mentira o resto é invenção –
Manoel de Barros”. Causou-me um tremendo impacto, pois é exatamente dessa forma
que eu penso e crio.
Se eu tivesse escrito o
texto com base na minha existência, seria ficção. Mas como eu escrevi usando o
meu personagem “Jeux”, acredito que faça parte da realidade da vida dele. Mas ele
é um personagem ficcional. Que nasceu há uns 10 anos e desde sempre ele vem com
estas experiências e interpretações meio malucas da vida e da sociedade. Eu o
adoro, e a traquinagem que vai fazendo. Nossa parceria já rendeu seis livros.
Se eu fosse explicar tudo o
que existe neste texto, teria que escrever um livro. Mas minha amiga pode ter
certeza que cola, amplie seus horizontes. Imagine o pobre do Kafka tentando
explicar o porquê que o sujeito se transformou numa barata. Hoje a gente sabe
(acreditando nas verdades aceitas pelo grupo, como verdade), mas naquela época
como deve ter sido.
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