A carta que você nunca vai ler, eu poderia lhe endereçar
mas teria que ser enviada ao passado onde você não mais vive
e eu também não
poderia mais habitar minha juventude.
O que você me deu? Como fui tolo em não enxergar
completamente cego em meu ego e virtude
apenas agora na eternidade, neste eterno templo vazio da
idade
eu vejo como a vida foi breve, exuberante e especial.
Sinto falta do calor da sua alma, o calor da sua pele,
o calor da sua juventude, o calor das suas palavras e
sonhos.
E de toda a nossa loucura trágica, tempestiva e bela
você com seu olhar de menina me apresentando Nietzsche
e se comparando a Salomé, como eu ri e depois chorei.
Forço agora a tratar com certa ironia, este sentimento de
vitoria
nem sou tão rabugento
e estou longe de qualquer filosofia divina
naquele breve tempo e lugar, apenas humano.
Você foi com certeza a mulher mais sedutora e felina
seu corpo e sua mente me fascinaram, uma miragem perfeita
você me deu um sonho de vida impossível de realizar
e por este único motivo foi realizado.
Naquelas noites de inverno em que eu andava a tropeçar
sempre embriagado pela poesia e o vinho.
Você me apresentou a outro amigo, com quem eu poderia
conversar e beber.
Se me lembro, era um pintor chamado Modigliani. Outro sujeito
apaixonado pela arte e por uma mulher. Sua
segunda tentativa, mas apenas na terceira, não quis entender.
Mas só agora, depois de todo este tempo. E já se passaram
tantos anos. Abri o livro que você me emprestou. Você ainda se lembra? O banquete
de Platão. Agora entendo o que você queria. Apenas agora... o amor.
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