QUAL
O SEU PROBLEMA?
Margareth parecia ser uma
mulher interessante, livre e desimpedida, que alternava suas horas entre o
trabalho, a casa e seu laser. Tinha absolutamente tudo o que uma pessoa pode
querer, dinheiro, condição social, amizades...
Então o que faltava a
ela?
Essa era a sua pergunta diária,
enquanto os anos silenciosamente iam passando. Viagens a Europa, carro
importado, apartamento de luxo, e muitas, muitas amizades.
No Instagram sempre
postava fotos com suas amigas, nos bares e restaurantes mais caros da cidade. Uma
vida perfeita e digital.
Mas Margareth conheceu
Jeux, o escritor alcoólatra e mulherengo. Que para ele tudo não passava de um
monte de esterco perfumado. O escritor sempre teve um enorme asco as redes
sociais e a tudo que elas poderiam significar, como por exemplo, uma extensão
da vida social e frívola dos clubes e associações.
No primeiro encontro, os
dois se conheceram. É sempre assim num primeiro encontro, você não acha? As pessoas
se conhecem.
Não de uma maneira
verdadeira, mas abstrata e quase lírica. Num bar qualquer na cidade baixa, eles
marcaram um encontro.
Os dois possíveis amantes
ou apaixonados, ou sabe-se lá o que. Isso é a pergunta do momento em se
tratando de relações modernas depois do fim do mundo.
Jeux era um sujeito do
fim do mundo, quando o mundo ia acabar em 2000, já não preciso dizer sua idade.
Isso facilita muito a vida do narrador.
Mas nosso conto é a
respeito de Margareth, essa mulher incrível e superpoderosa, uma mulher que
poderia comprar alguém como Jeux. O problema é que o velho escritor não estava
a venda.
Um escritor sábio escreveu
“escreva com vinho e revise com café”, mas sou apenas o narrador dessa triste história
de amor e por isso vou escrevendo com vinho e consertando com uísque.
Eu gostava de Shakespeare
e seu Romeo e Julieta, belas palavras para uma trepada não dada. Quero dizer, alguém
sabe se ao menos eles treparam na história?
Voltando aos nossos contemporâneos,
eles se encontraram, naquele bar, mas pelo o que me lembro não transaram na
primeira noite. Posso estar enganado.
Só sei que em outras
noites ela o visitou em seu quarto de pensão, como ela tremia em cada vez que
gozava, como se estivesse tendo um ataque. Aquilo realmente o fazia pensar
entre tantas outras coisas. Que aquela mulher estava simplesmente gozando.
Jeux aprendeu que uma
mulher baixinha tem uma vagina pequena, apertada e deliciosa o que fazia o
encaixe ser perfeito, mulheres altas precisam de homens mais altos, de mãos e
pés maiores entre outros artifícios.
Margareth se apaixonou pelo
encaixe e por toda a safadeza que vinha no pacote, não é sempre que uma mulher
conhece um homem que está preocupado em dar prazer. Mas Jeux sempre gostou de
dar prazer a todas as amigas. O que o faz um ser diferente, além das mãos
grandes, pés grandes, e tudo mais, apesar de sua aparência franzina.
Mas nossa heroína queria
mais e resolveu convidar seu escritor para um jantar, ou melhor para dois
jantares em seu humilde duplex com piscina e tudo mais.
O escritor estava todo
enrolado ajudando uma amiga a fazer pequenos concertos em seu apartamento. E quando
digo amiga, é amiga mesmo. Apesar de eles já terem transado umas duas vezes e
Jeux sentir um forte tesão por ela. E querer uma terceira vez se possível.
Nos dois encontros o
escritor chegou atrasado, mas fora o atraso, as duas noites foram longas e
prazerosas.
Mas o problema é Shakespeare,
diria uma mosca zombeteira. Margareth se sentiu ofendida, como ele e logo ele. Na
condição dele, fazia pouco causo dela.
O problema da humanidade
é o umbigo. Cortem os umbigos e teremos uma vida mais feliz. Se nossa heroína não
tivesse um umbigo ela seria mais feliz.
Ela continua trabalhando,
se divertindo, pelo menos é o que mostram suas fotos nas redes sociais. E o
escritor continua escrevendo.
Röhrig C.
Do livro “Um escritor na
Cidade Baixa” 2019.
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