PRECISO
FAZER A NOITE VALER A PENA
Fiquei sentado na banqueta ao
lado do balcão e a bartender generosamente fingindo que eu não existia. Ela ia
apenas repondo o meu copo. E sorrido para todos menos para mim. Enquanto olhava
para suas tatuagens e ficava pensando se ela teria mais algumas que não estavam
amostra. Nunca tinha me importado tanto com tatuagens, até vir morar na Cidade
Baixa. Isso tinha muito a ver com os anos 80.
Ela realmente estava em boa
forma, e tinha tatuagens muito interessantes. Nosso trato no inicio foi
simples, mantenha sempre o meu copo cheio e se eu cair, não ligue. Eu sempre me
levanto.
Gosto de bares com uma
iluminação fraca, quase uma penumbra e com música, preferencialmente um rock
and roll dos antigos, penso nisso muitas vezes e me considero um dinossauro. Na
mesa do lado uma prostituta falava em inglês com um cliente, que parecia ser legitimamente
americano, provavelmente ele tinha vindo dos estados unidos, não tinha um sotaque
inglês e tinha aquele jeito chulo e americano. Em outra mesa um rapaz alisava
as tatuagens do seu amigo, as vezes ele também me dava uma olhada, aquilo
parecia ser muito tenso. Eu simplesmente ficava olhando para a garota atrás do
balcão preparando os drinks. E tentando ver o que estava acontecendo a minha
volta. Enquanto a garota que estava comigo falava e falava e eu apenas
concordava. Querendo apenas lhe dar uns beijos e lhe levar para o meu
quarto.
Enquanto eu secava meu copo,
ela bebia seu drink, comia sua comida e saboreava sua sobremesa. Eu continuava
olhando aqueles olhos e aqueles lábios. Minhas intenções eram muito simples. Mas
ela fazia foto de tudo para enviar para os parentes. Ela deveria estar
decepcionada com o encontro, eu estaria no lugar dela. Mas no meu lugar eu
estava apenas adorando.
- Gostei do lugar, a decoração
é bem legal. Ela disse.
- Sim é bem legal. Eu disse.
O mundo estava desabando, e
aquele precipício estava se criando entre nós. Preciso de algo que faça valer a
pena a noite. Pensei, enquanto ela foi procurar o banheiro. Pobre garota cheia
de clichês e pouca vivencia. Ela ainda vai ter que estar sozinha um dia e olhar
ao seu redor e se lembrar das lembranças. Espero em algum momento estar lá
presente.
Quando ela voltou, ficamos bebendo
um pouco mais até ela dizer que precisava ir embora. Lhe dei um beijo e
realmente aqueles lábios eram bons de beijar, nunca beijei lábios iguais,
suaves e sensuais, e aquele olhar tinha seu valor, ela deveria conquistar o
mundo com aquele olhar. Mas as coisas já não estavam funcionando, pagamos a
conta e ela foi embora. Me deixando na rua, na porta do bar, sabendo que aquele
tinha sido o primeiro e o último encontro, comecei a andar pela rua. Comecei a
tentar achar defeitos, mas eu não a conhecia. Então fiquei apenas com aquela
sensação de ter lhe beijado.
Lembrei da Patrícia, que
sempre me pareceu ser uma boa amiga. Fui até seu prédio e toquei o interfone.
- Quem é? Ela perguntou.
- Preciso fazer a noite valer
a pena. Eu disse.
- Entre.
A porta se abriu e fui até o
elevador.
Quando cheguei em eu andar, ela
abriu a porta do apartamento e perguntou o que tinha acontecido.
- Nada de novo no front. Respondi.
- Então entre querido. Ela disse.
Ela passou um café e colocou
uma dose generosa de rum. Começamos a conversar sobre os assuntos do hospital e
de toda aquela velha história que ela adorava falar. Eu só escutava e
concordava. Ela deveria já ter entendido que eu era apenas um escritor e como
um fotografo só sirvo para registrar as cenas. Mas ela queria alguém que
concordasse com ela, e para mim estava tudo certo. Se você precisa de alguém que
concorde com seu ponto de vista. Eu concordo.
- Quer me comer? Ela disse.
- Você sabe que eu sempre
quero. Eu disse.
Fomos para o quarto e fizemos
o que tinha que ser feito. Depois fumamos uns cigarros. O quarto estava
diferente ela tinha colocado uma cortina nova, aquilo me chamou a atenção. Estava
realmente bonito. Pela primeira vez vi que ela tinha mantido o quarto organizado.
Fiquei pensando que ela deveria ter recebido antes seu namorado, ele era
realmente um sujeito muito chato e cheio de uma metódica que eu achava um desperdício
de tempo. Mas ele era o cara. Eu apenas via aquela morena cheia de curvas e
nunca liguei para o seu caos pessoal, ficava apenas um pouco chateado quando ela
me contava as barbarias de seu namorado.
- Eu sei que você não veio
aqui só para me comer, o que mais você quer? Ela disse.
- Ela me falou da caixa de
pandora, mas não sabia que a única coisa que os gregos temiam era a esperança. Quando
perguntei a única coisa que tinha ficado dentro da caixa, ela não sabia. Eu disse.
- Sim, e dai vai ver que ela
não curte os gregos.
- Mas você é enfermeira.
- Você é um cachorro mesmo não
muda.
- Preciso de uma ajuda
profissional hoje.
Patrícia se levantou nua e foi
até a cozinha pegar seu kit, fiquei olhando suas curvas. E realmente eu não
sentia nada por ela. Talvez uma certa compaixão. Mas nada além, e eu não sabia
o que ela sentia por mim. Quando ela voltou espalhou tudo sobre o lençol.
- Você sabe que essa merda
vicia? Ela disse.
- Seja apenas uma boa enfermeira
querida. Eu disse.
- Não estou gostando nada
disso.
- Relaxe só preciso hoje.
- Foi o que você disse ontem.
Então ela preparou uma dose
generosa, colocou a borracha em meu braço e aplicou. Simplesmente foi lindo. Mas
não o suficiente.
- Quero outra. Eu disse.
- Meu querido nem fez efeito ainda.
Ela disse.
- Apenas mais uma e eu relaxo.
– Você vai morrer! Ela gritou.
-
Meu bem isso eu já sei, - eu disse – me conte algo novo. Apenas faça o que tem
que ser feito para eu relaxar.
-
Não quero que você morra no meu apartamento.
-
Mas ela não sabe nada dos gregos! Eu gritei quando ela aplicou a segunda dose.
No
outro dia a vi fazendo torradas e corri para o banheiro para vomitar. E entendi
que ainda estava vivo.
Röhrig C.
Do
livro: Cidade Baixa e suas Mulheres Altas “Um escritor na Cidade Baixa”
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