TUDO
ENTRE AMIGAS
Porto Alegre ultimamente anda
me parecendo uma cidade muito pequena. Depois que a Clarissa me deu um pontapé
na bunda, fiquei vinte e quatro horas de jejum. Meditando a respeito do que
tinha acontecido. Estávamos já a dois meses transando e tendo uma boa amizade. Mas
ela começou a achar que eu estava muito envolvido. Acho que tinha demonstrado
muita paixão e isso fez ela recuar. Ela estava com razão em não querer
atrapalhar sua rotina e era isso que estava acontecendo. Fiquei pensando em
nossa ultima conversa.
- Eu acho que você quer mais. Ela
disse.
- Como assim? Perguntei.
- É que não tenho tempo para
um relacionamento, - ela disse – meu trabalho está me sugando muito. E não
posso vir aqui toda hora.
- Eu sei, mas pode ficar
tranquila, não quero lhe pressionar, você vem quando puder vir.
- Mas você quer mais.
- Você acha?
- Sim, e agora não tenho
tempo.
- Desculpe se demonstrei muita
paixão e tesão por você, mas sou assim. Só que também isso não quer dizer muita
coisa. É só que gosto de me entregar ao momento, não consigo ser raso.
- Melhor a gente dar um tempo,
e se conhecer outra mulher nesse tempo não tem problema. Vou compreender.
Sendo assim, pensei. Vamos agitar
os dados e ver o que acontece. De volta ao aplicativo de relacionamentos.
Combinei tomar um chope com a Susana
no Dirty Old Man, o boteco fica quase ao lado da minha casa, melhor dizendo do
quarto alugado e gosto da iluminação e daquele negocio de decoração temática. Apesar
de quando fui comemorar o aniversario do velho safado, nenhuma garçonete sabia
de quem era o aniversario naquela noite. Acredito que se o Bukowski chegasse na
porta para entrar seria barrado, sua loucura não seria bem-vinda. Eu também ainda
não entendo direito aquele bar. É só mais um lugar na Cidade Baixa aonde gosto
de ficar bebendo.
A mulher chegou meia
desconfiada, acho legal esse lance das mulheres com mais de 40 anos, elas sabem
o que querem e não precisamos de muito teatro. Mas tivemos que fazer nosso
teatrinho naquela primeira noite. O que a fez pensar, eu acho. Que eu era um
sujeito acima da média, pelo menos não convidei ela para ir para o motel
naquela primeira noite.
Uma semana depois estávamos transando
em seu apartamento.
- Achei que aquele negócio de
dar prazer era só um papinho querendo se vangloriar. Ela disse.
- Eu sinto muito prazer em dar
prazer, essa é a minha natureza. Eu disse.
- Agora eu sei.
- Podemos fazer qualquer coisa
que está tudo tranquilo.
Mas dai ela veio com o assunto
de ter visto o meu perfil no facebook e que tínhamos uma amiga em comum.
- Dei uma olhada no seu face e
vi que temos uma amiga em comum.
- Verdade?
- Sim, você teve alguma coisa
com a Clarissa?
- Somos apenas bons amigos e a
acho muito querida.
- Vocês tiveram alguma coisa,
pode dizer?
- Não posso dizer nada, ela não
está aqui.
- Mas ela nos falou.
- Tudo bem, é um problema de vocês.
- Vocês transaram, ela contou.
- Então você já sabe de tudo,
continuo não dizendo nada. Ela é uma pessoa que eu gosto muito.
- Não precisa mentir.
- Tudo bem!
Acho muito chata essas
conversar a respeito de alguém que não está presente, seja para consentir ou discutir.
E a mulher estava afim de saber os mínimos detalhes. Mas eu achei que elas já tinham
conversado tudo.
- Sabe seu nome não é muito
comum e esse negócio de você ser escritor, só pode ser você então.
- Se você acha isso é um
problema seu. Eu estou fora, não quero problemas.
Depois daquela noite ela pulou
fora e me deixou a deriva de novo. Imagino que elas devem ter conversando em um
dos encontros do grupo. Algo do tipo, sabe aquele sujeito que você estava
transando, eu também dei uma pegada nele.
E a vida seguiu, até aparecer
a Amanda, como o nome diz. Um amor de pessoa, casada e infeliz. Os homens andam
muito escrotos, as vezes sinto vergonha da nossa categoria. A conheci por um
acaso do destino, gosto de fazer essas frases. Mas foi no supermercado mesmo. Dei
uma olhada e vi que ali se escondia uma mulher bem quente embaixo daquela pele
de boa mulher. Todas as mulheres ao meu ver são boas, mas existe aquele estereótipo
da menina bem-comportada. E lá fui eu de novo, querendo saber algumas dicas de
como escolher melancias. Bem, quando eu vejo um machista logo penso é só mais
um corno que não sabe tratar bem uma mulher.
- Você já ficou com a Clarissa
e a Susana? Ela perguntou.
- Não sei o que você quer
saber. Respondi.
Röhrig
C.
Do
livro: Cidade Baixa e suas Mulheres Altas “Um escritor na Cidade Baixa”
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