A VIDA COMO ELA É....
Jorge conheceu Sonia num
aplicativo de relacionamentos, a garota sempre se esquivava quando o assunto
era marcar um encontro. Ela queria apenas manter contato pelo whatsApp. Aquele
mistério fazia com que Jorge se mostrasse mais e mais enfático em marcar um
encontro. Volta e meia ele enviava algumas mensagens que ela não respondia de
imediato. As vezes chegava a levar mais de 24h. “O que estava acontecendo?”
aquela frase não saia de sua cabeça. Toda dificuldade só fazia aumentar seu
interesse. No aplicativo de
relacionamentos ela usava fotos de paisagem, no whatsApp apenas aparecia a
imagem de um desenho, uma gatinha meiga e dócil.
“– Porque todo esse mistério?”
Ele disse.
“– Amado não tem mistério
nenhum, - ela disse – apenas quero ter certeza que você é a pessoa certa.”
“– Certa para que?”
“– Nós vamos nos encontrar,
mas não agora.”
“– Isso tudo é muito estranho,
você é casada?”
Sonia deixou aquela frase sem
resposta. Jorge passou a tarde checando o celular para ver se ela respondia. Nenhuma
nova mensagem durante dois dias.
Ele já tinha decidido que
aquela história era muito estranha, talvez até perigosa. Foi ao escritório de
seu melhor amigo para se aconselhar. Contou tudo que tinha se passado nas
ultimas semanas, e aguardou as palavras do amigo. Rafael foi direto: - Ela só
pode ser casada, mas que mal a nisso?
- Sim, mas se o marido nos
pega, imagina a situação.
- Ela deve saber o que está
fazendo, e depois é sempre muito excitante um caso de paixão, imagina toda
aquela adrenalina gerada do medo de ser descoberto.
- E se for descoberto, é uma
encrenca!
- Se fosse comigo, não deixava
passar.
- Talvez você tenha razão, mas
ela nem me procura mais.
- Já enviou uma nova mensagem
para ela?
- Não, ainda estou esperando a
resposta dela.
- Tenha atitude homem! Manda
uma mensagem nova, vai que dê certo. E depois é só sexo mesmo.
- Tens razão, e a imagino muito
gostosa e safada.
- Então?
- Vou mandar uma nova
mensagem.
Os dois amigos ainda
continuaram a conversa por mais alguns minutos. E Jorge se despediu do amigo
confiante. Enquanto voltava para casa, ficou pensando nas estatísticas dos
últimos encontros, 90% das mulheres que conhecera no aplicativo havia transado
no primeiro encontro, as outras 10% no segundo encontro. Tudo se resumia a sexo
como Rafael mesmo sugeriu.
Naquela noite o sujeito
disparou a mensagem: - Podemos ser discretos, quero você!
E ficou aguardando, algum
sinal da garota. Ele andava pela casa sem saber o que fazer para matar o tempo.
Caminhava um pouco e voltava a olhar o celular, foi a cozinha e fez um café.
Depois voltou a olhar o celular. Mas nenhuma resposta. Quando já tinha
desistido e estava se arrumando para dormir. Escutou o barulho do celular, o
barulho de que tinha chegado uma nova mensagem. Olhou o celular e era uma
mensagem do amigo: “– E aí, alguma novidade?”
Largou o celular no
criado-mudo e olhou o relógio 01h:15 min. Resolveu não responder a mensagem do
amigo.
Mas o amigo não desistiu, e
continuou lhe enviando a mesma mensagem, em intervalos torturantes de meia em
meia hora. Jorge pegou o aparelho e tirou bruscamente a bateria, jogando o
aparelho de um lado e a bateria do outro. Sentou na cama e ficou refletindo “Esse
idiota não sabe que o assunto é sério, amanhã vou mandá-lo a merda”, realmente
o assunto estava ficando cada dia mais sério, ele havia se apaixonado pelo ideal
de mulher que imaginava existir atrás daquelas imagens insonsas. Acabou adormecendo
derrotado.
No dia seguinte despertou com
uma ressaca, sentindo-se doente e fraco. Não era uma ressaca de álcool, mas de
pura ansiedade. Juntou as partes do aparelho e o ligou. Tinha uma nova
mensagem, e não era do amigo.
“– Quero lhe ver hoje, - ela
disse – se for para ser será hoje e nunca mais. Se você não me responder saberei
que não quer, e procuro outro!”
Aquela mensagem mudou suas
feições, foi tomado por uma sensação de êxtase e loucura. Ao mesmo tempo
receoso e excitado, lembrou-se do fato dela ser casada e do problema que isso
poderia gerar em sua vida, e foi com esse problema corroendo sua mente que ele respondeu:
“– Sim, também te quero muito! Local e horário?”
Decidiu não ir trabalhar,
passou a manhã olhando o aparelho, fumou um maço de cigarros, a manhã se
arrastou lenta e torturante, até o sino da igreja tocar, informando que era
meio-dia.
- Essa vadia está me fazendo
de idiota! Sentenciou a si mesmo.
E continuou.
- Você é um idiota! Não pode
ver uma mulher que já se apaixona!
Ratificou sua exclamação.
- Neste caso você ainda nem a
viu, IDIOTA!
E ficou conversando consigo
mesmo até as 15h, quando veio a explicação. Nova mensagem recebida. Pelo horário,
ficou receoso de abrir e ver que a garota tinha desistido do encontro. Mas precisava
dar um fim na história e abriu a mensagem.
“– Meu querido, que bom que
aceitou se encontrar comigo, - ela disse – mas hoje não vai ser possível. Mas amanhã
é certo.”
Ele jogou outra mensagem para
ela, como quem puxa o caniço rápido ao sentir que o peixe beliscou a isca.
“– Pelo amor de deus! Aonde amada?”
“– Conhece o Motel Botafogo?”
“– Conheço sim!”
“– Vamos fazer assim querido,
me espera as 14h no boteco tropical, que fica na rua Botafogo quase esquina com
a Azenha.”
“– As 14h no boteco tropical?”
“– Sim amado, só tenho este horário,
podemos ficar até as 17h no motel para nos conhecer melhor, o que achas?”
“– Perfeito!”
“– Nos falamos amanhã amado,
preciso sair agora, beijinhos doces pra você. Sonha comigo essa noite querido. Te
amo!”
“– Também te amo querida! Até amanhã!
Pode ter certeza que você não sai dos meus pensamentos, nem mesmo que eu
quisesse.”
“– É assim que eu gosto, meu
amor, você é muito especial. Beijinhos doces para você.”
“– Não vejo a hora de te
beijar. Mil beijos meu amor! Sou teu!”
“– Eu sei querido.”
Jorge largou o celular no
criado-mudo e percebeu o caos que estava o quarto, parecia que tinha passado um
furacão, tudo estava revirado e misturado. Exatamente como seus próprios sentimentos.
Pensou em enviar uma mensagem para o amigo, para compartilhar sua felicidade. Mas
lembrou de como o outro tinha lhe infernizado na noite anterior, decidiu contar
apenas depois que tudo estivesse consumado.
As 13h:20min, já estava esperando
no boteco tropical, ele sentado numa mesa do lado de fora bebendo uma cerveja,
observando todas as mulheres que passavam pela calçada, ele as olhava de cima a
baixo acreditando que qualquer uma poderia ser a sua misteriosa amante. Secou o
primeiro copo, e sentiu um arrepio “E se ela me olhar de longe e achar que não
sou bom o bastante pra ela. – Pensou, e encheu novamente o copo.” Começou a dar
notas para as mulheres que iam passando, até as 14h se apaixonou e detestou
umas 30 vezes. Depois de duas cervejas e 15minutos de atraso, uma garota pequena
e loira dobrou a esquina vindo da Azenha e entrando na rua Botafogo. “- Impossível
ser essa, - ele pensou – linda!
A garota foi se aproximando e
parou do seu lado.
- Vamos! Ela disse.
- Oi, tudo bem? Ele disse.
- Melhor conversarmos no
motel, não quero ser vista aqui, já pagou a cerveja?
- Sim.
- Então vamos?
Jorge se levantou e acompanhou
a garota até a recepção do motel, foram andando lado a lado como dois
estranhos. Na recepção do motel ela fez questão de pagar pelo quarto, um quarto
de luxo de R$75,00. Ele tentou negociar que queria pagar a metade, mas ela insistiu
em dizer que apenas lá dentro iam conversar.
Dentro do quarto não teve
nenhum dialogo, apenas transaram em varias posições e quando ele já estava
quase gozando. Ela pediu para ele segurar o gozo, ela queria sentir ele gozando
em sua boceta pela frente, se ajeitou na cama e puxou as pernas até encostar os
joelhos nos seios.
- Mete querido! Mete gostoso! Ela
disse.
Jorge fez como ela tinha
ordenado, terminou de gozar e estava saindo de cima dela, quando ela gritou.
- Fica! Quero até a ultima gota
da sua porra dentro de mim. Bem no fundo amor!
Ele ficou até ela decidir que
já era hora dele sair de cima, o quarto voltou a ficar em silencio. A garota se
levantou foi até o banheiro tomar um banho. Enquanto ele ficou fumando um
cigarro e contemplando a sorte que tinha dado. Vinte minutos depois ela saiu do
banheiro já vestida. E disse:
- Amanhã no mesmo local e horário.
- Sim amada.
- Te cuida querido, gostei de você,
até amanhã.
Ainda faltava uma hora para
fechar a conta do quarto, continuou ali sem entender bem o que tinha
acontecido.
Durante duas semanas as mesmas
cenas se repetiram, inclusive a única forma que ela aceitava que ele gozasse
nela. Até que na terceira semana ela não apareceu. Jorge resolveu lhe enviar
uma mensagem para ver se estava tudo bem. Mas ela tinha o bloqueado no whatsApp.
Tentou ligar para o número, mas uma mensagem gravada lhe avisou que aquele
numero não existia.
Passou a tarde enchendo a cara
no boteco tropical, se sentiu enganado e usado. Prometeu nunca mais se
apaixonar, pagou a conta e foi cambaleando para seu apartamento.
Instalou novamente os
aplicativos de relacionamento, e ainda meio bêbado começou a falar com a Paola.
Duas horas depois já tinha um novo encontro marcado. “Essa pelo menos mostra
seu rosto – pensou”.
Quatro meses depois, vários encontros,
com várias mulheres e tudo esquecido. Rafael lhe enviou uma mensagem, um
convite para jantar em sua casa.
Jorge achou estranho, mas
aceitou o convite, o amigo nunca o tinha convidado antes para conhecer sua
casa.
No horário combinado ele tocou
a campainha, Rafael abriu a porta e recebeu o amigo com um forte abraço e demonstrando
sua felicidade chamou sua esposa para conhecer o amigo. Barbara se aproximou e recepcionou
o hóspede com a educação que se deve receber um estranho apesar de amigo do
marido, mas um estranho.
- Mundo pequeno. Jorge disse
olhando para a mulher sem poder acreditar que era ela.
- Como? Perguntou Rafael.
Enquanto Barbara voltava a dar
atenção aos outros convidados.
- Acho que já vi sua mulher no
centro, um dia desses, mundo pequeno.
- Ah sim, a coitada
ultimamente estava indo muito ao centro para consultar. Mas agora está tudo
resolvido.
- Qual o problema?
- Vamos entrar e eu explico.
Os dois amigos entraram na
casa em festa, Rafael alcançou uma taça de champanhe para o amigo. E fez sinal
para brindarem.
- Brinda comigo meu amigo,
essa noite sou o homem mais feliz do mundo! Disse Rafael
As taças se tocaram e Rafael
contou a novidade, sua esposa estava gravida de quatro meses, depois de dois
anos de tratamento. Ele mesmo já achava que teriam que adotar uma criança. Mas a
quatro meses ela havia conseguido engravidar. Aquela informação “quatro meses”,
fez Jorge querer jogar a taça na cara do amigo e contar tudo ali mesmo. Mas se
conteve e apenas resmungou – A vida como ela é...
- O que disse? Rafael
perguntou.
- Nada não, apenas me lembrei
de um livro que estou lendo do Nelson Rodrigues, deixa pra lá, bobagem minha.
- Sorria meu amigo, um dia você
também vai saber o que é essa sensação.
- Sim.
- Tens que largar um pouco
esses romances de aplicativos, isso não leva a nada.
- Pode ser que leve a tudo
também. Jorge disse e foi encher a taça.
Depois da festa nenhum dos
amigos se viu mais. E Barbara teve uma menina que colocou o nome de Sonia.
Röhrig C.
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