EFEITO
WERTHER (05)
As vezes o caos nos visita sem
avisar, ele entra pela porta, senta a nossa frente, e sem dizer nada, fica nos
observando.
Foi assim que aconteceu com Tomaz,
19 anos, viciado a quatro anos. Agora seu corpo sendo levemente levado de um
ponto ao outro, milímetros, imóvel, enrijecido, dependurado naquela corda, como
um pêndulo. Apenas o caos o observando.
Como ele diria, se estivesse
com seu cachimbo prestes a acender, tocar um rock'n'roll. O cachimbo permaneceu
na mesa, entre outras coisas. Mas não deixou nenhuma carta.
No inicio foi por diversão,
sempre é por diversão. Escondemos muitas coisas na diversão e por debaixo de
nossos sorrisos.
A sombra das máscaras
projetadas na parede, a música, a vela queimando, alucinações, o caos. Não
aptos para a vida. Darkness.
Sua mãe não teve dinheiro para
os serviços fúnebres, seu pai já tinha morrido a muito tempo. Foi uma despedida
barata, caixão modelo econômico, terno de segunda mão, flores plásticas, e um
padre falando um monte de bobagens.
Marcos levou uma térmica cheia
de vodca, o que ajudou a tornar a noite na pequena capela, um pouco mais
divertida. Insensível, não, apenas prático.
Ficamos bebendo e olhando o
corpo dentro do caixão.
- Você acha que ele está mais
alto? Marcos disse.
- Mais alto? Eu disse.
- Sim, olha para o pescoço,
não parece que deu uma espichada?
- Talvez, não sei.
- Se ele pudesse se ver agora,
acho que ficaria feliz.
- Provável.
- Ele sempre reclamava que era
o mais baixo da turma, acho que agora ele está da sua altura.
- Não força, só por que ele
está morto. Eu continuo sendo mais alto.
- Eu não sei, você tem uma
fita métrica?
- Que ideia é essa!
- Vamos medir ele.
- Está louco!
Marcos se aproximou do caixão
e disfarçando foi medindo palmo a palmo o morto.
- Oito palmos, - ele disse –
vamos ver quantos palmos você tem de altura?
- Que ideia!
Saímos da capela, me encostei
na parede do lado de fora e ele riscou a parede com o canivete de pressão na
altura do meu cabelo. Depois começou a medir a parede.
- Verdade. Ele disse.
- O que é verdade, - eu disse –
e ai, quanto deu?
- Você continua mais alto por
meio palmo.
(continua 😊) Röhrig C.
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