EFEITO
WERTHER (13)
Já fazia uns dois meses que
não encontrava o Marcos, aproveitei que Sofia tinha viajado para a casa dos
pais. E combinei com ele de tomarmos umas cervejas perto do centro.
- Você não vai acreditar, -
ele disse – mas comprei o carro do Francisco. O pai dele fez um preço muito
camarada.
- Pensei que tinha sido perda
total. Eu disse.
- Foi o que a seguradora
atestou, mas é bobagem. O carro está quase perfeito.
- Você teve coragem de
procurar o pai dele para negociar, depois de tudo?
- São águas passadas.
- E o pai dele como está?
- Na mesma ainda, cada dia
mais louco. Até a mulher dele, não aguentou e o abandonou. Ali sim, é perda
total. O infeliz não quer saber de mais nada.
- Eu também ficaria, se estivesse
no lugar dele.
- Exagero, puro exagero! E a
Sofia?
- Foi tirar uns dias na casa
dos pais.
- Bem que ela faz. É bom dar
um tempo para não enjoar.
- Verdade.
- Vocês
ainda conversam a respeito?
- Não, impossível conversar
com ela sobre esse assunto.
- E você veio no carro do
Francisco?
- Não, vai levar um mês para
ficar pronto. Está na oficina. Sabe como é, esse pessoal, nunca entregam no
prazo, agora o mecânico está dizendo que não consegue encontrar umas peças no
mercado e teve que pedir para a fábrica.
- Vais ficar com um carrão!
- Sim, e novinho.
De todos os meus amigos,
Marcos era o sujeito mais podre e imoral que conhecia, mas nunca ia imaginar
que chegaria tão longe. Comprar o carro do Francisco era algo desumano e cruel.
Fiquei imaginando-o morando a duas quadras da casa do velho, e passando todos
os dias pela frente da casa dirigindo aquele carro.
- Por que pensa nas mulheres
sempre no plural? Ele disse.
- Porquê pensar no singular
não faz o menor sentido. Eu disse.
- Um dia, ainda vai acabar
sozinho.
- Pode ser que sim, pode ser
que não. Mas com certeza um dia a gente acaba.
- Deveria pensar mais na
Sofia, ela não merece isso.
- Mas o que é “isso”, afinal
de contas? Acha mesmo que alguém merece alguma coisa, que possa significar a
castração dos desejos do outro?
- Deveria ter algum critério.
- Eu tenho!
- Qual critério? Você sai com
todas que cruzam o seu caminho.
- Pelo menos eu não minto para
nenhuma delas.
- Mas omite.
- Isso não é verdade! Vai
dizer agora que virou um moralista?
- Sabe que não sou, e nunca
fui. Apenas acho que a Sofia merecia algo melhor.
- Quer ficar com ela?
- Não é isso que estou
dizendo.
- Mas é o que parece!
- Melhor mudarmos de assunto.
- Concordo!
Ele tinha o carro e eu tinha
Sofia, ambos culpados.
(continua 😊) Röhrig C.
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