Já tinha dado uma volta por
todos os bares e a noite estava péssima, nenhuma novidade. Nada atrativa. Teria
ganhado mais se tivesse ficado em casa. As pessoas pareciam todas iguais e sem
graça. Resolvi apenas beber um pouco mais e escolhi um bar pouco movimentado.
Sentei-me do lado do balcão e pedi para o garçom uma cerveja. Nem a cerveja estava
na temperatura adequada, parecia amarga demais. Tudo parecia entediante e sem
graça. Continuei bebendo e olhando a televisão. Estava passando um filme
antigo. Parecia um bom filme. Eu podia ter ficado em casa bebendo e assistindo
televisão. Mas tive que sair. Maldita esperança. Sempre procurando algo novo. E
sempre ficando decepcionado. Já tinha passado a casa dos 30 anos.
A maioria dos meus amigos já
estava com algum empregado bom; casados e cheios de dividas. Bem, a vida deles
não era grande coisa também. Continuei bebendo e pensando na inutilidade da
vida humana. Mas todo este discurso melodramático é só para contar o que veio a
seguir. Já estava ficando bêbado e cada vez mais chateado.
Ela surgiu no canto do
balcão e foi se aproximando, lentamente. Parecia um animalzinho selvagem.
- Oi! Ela disse, de maneira
simpática e jovial.
- Oi, amiguinha. Eu disse de
maneira patriarcal.
- O que você está bebendo?
Ela perguntou.
- Cerveja.
- Posso beber com você?
- Não sei se é uma boa
idéia.
- É claro que é; à noite
esta perfeita.
Ela acenou com a mão e pediu
mais um copo. Estávamos apenas os dois no balcão, mas ela fez questão de juntar
seu banco ao meu. Quase grudou os dois bancos.
- Você não parece ter idade
para estar aqui. Eu disse.
- E qual é a idade?
- Não sei, mas com certeza
você não tem.
- A idade está na cabeça de
cada um. Ela disse e secou seu copo. Eu completei novamente o copo dela.
- Deveria procurar alguém da
sua idade.
- São muito imaturos, gosto
de homens mais velhos.
Estava dando os comerciais
na televisão. Pude olhar melhor para ela. No máximo deveria ter uns 15 anos, ou
menos.
- E seus pais sabem que você
está aqui?
- Eles não ligam, já estou
crescidinha.
Fiquei imaginando quantos
anos daria de cadeia se eu levasse aquela conversa até o fim. E as manchetes
nos jornais “velho bêbado abusa menina inocente”. Pedi outra cerveja para o
garçom e na televisão voltou a passar o filme. Já estava na metade do filme.
Continuei assistindo fixamente. Enquanto ela ajeitava o cabelo. Quanto mais ela
mexia no cabelo, mais exalava um cheiro bom e sensual.
- Você gosta do meu cabelo?
Ela disse, colocando a mão em cima da minha mão.
- Claro! Respondi, sem tirar
os olhos da televisão. Apenas sentindo o perfume.
- Sente como ele é macio.
Ela disse, pegando a minha mão e passando em seus cabelos.
Ela tinha o cabelo muito
macio e cheiroso. Enquanto passava minha mão por seu cabelo o perfume exalava
mais forte. Dava pra sentir o quanto era macio seu cabelo e o calor da pele da
sua mão segurando a minha. O capitulo terminou e voltou os comerciais. Dei uma
olhada ao redor e vi que as pessoas nas mesas próximas ficavam nos olhando.
Como se eu estivesse fazendo algo errado e proibido. Até o garçom estava me
olhando de cara feia. Pedi outra cerveja.
- Mora aqui perto? Ela
perguntou.
- Moro. Respondi.
- É casa ou apartamento?
- Apartamento.
- Podíamos ir lá tomar uma
cerveja.
- Não me parece ser uma boa
idéia.
- Esta com medo de mim? Ela
disse, sorrindo.
- Claro que estou. Não estou
a fim de me encrencar.
- Mas ninguém precisa saber.
- Um momento, vai começar o
filme.
Cortei o assunto e voltei a
olhar o filme. De onde tinha saído àquela garota? Fiquei pensando, enquanto o
mocinho prendia o bandido. Ela não estava gostando do pouco caso que eu estava
fazendo e resmungou: - você é um babaca!
- só um momento. Respondi, sem
tirar os olhos do aparelho.
Quando a olhei, já tinha
sumido.
O filme tinha salvado a
minha vida, pensei. Mas por outro lado ela era bem gostosa, podia ter levado
ela para o meu apartamento. Paguei a conta e sai para procurá-la.
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