O blog recebeu mais uma participação, este conto foi escrito pelo amigo Cadu Turco e publicado pela primeira vez em seu blog https://niggazinferno.blogspot.com.br (Histórias Vagabundas de uma Mente Vadia, Blog destinado à cronicas, contos e poesias deste paulistano de trinta e tantos anos. Conteúdo auto-biográfico e cotidiano marginal.).
Doce e Duro Coração
As manhãs eram um terror horrível pra mim nessa época.
Trabalhava a noite e
quando chegava em casa, o Sol era um inimigo a ser vencido.
Era um apartamento
quente então eu precisava DESESPERADAMENTE adormecer antes que ele nascesse ou
estaria fodido e não dormia, ficando com a aparência de um zumbi. Tinha grande
dificuldade em pegar no sono, tinha sempre que beber algo pra poder me dopar e
cair, mas era o que era necessário fazer pra sobreviver.
Numa manhã dessas
estava na sala, deitado no sofá, o cinzeiro abarrotado de bitucas e um copo
pela metade de vinho vagabundo, ouvindo um som que vinha da tv tentando
adormecer quando a campainha tocou. Me levantei e fui atender. Duas senhoras
por volta de uns 50 anos.
-Bom dia moço.
-Bom dia.
- O senhor conhece a blá blá blá...Testemunhas de Jeová.
Não tenho nada contra
nenhuma religião nem a favor, não me ligo nisso mas respeito a ideia de cada
um.
-Moça, olhe...Legal seu lance ai, mas não é muito comigo não
tá?Trabalho duro, doze horas por noite, e essa é a hora que dá pra eu dormir,
se for possível não vir mais aqui, ao menos nessa hora eu agradeço mesmo.
-Mas senhor blá blá blá..
Acabei com dó da
tia.Meu sono tinha ido embora.Ouvi mais uns dois minutos de conversa, peguei
uma revista boa pra recortar pra algo fechei a porta e tentei em vão dormir.
Passada uma semana eu
acho, lá estava eu, a mesma cena. O cinzeiro, o copo, a tv, meus olhos
sangrando a campainha...
-Bom dia moço blá blá
bl
-Olha dona falei
contigo na semana passada e numa boa...PELO AMOR DE DEUS! NÃO TOQUE MINHA
CAMPAINHA DE MANHÃ!
- Mas moço sabe..
- Dona sou ateu! Um bom dia.
Fechei a porta já
meio acabrunhado.
Mas de qualquer
maneira eu acabava respeitando as senhoras.
Tinha uma boa recordação de minha infância.
A mãe dos irmãos, Henry, Joe, Marc e Will Arlington era
Testemunha, então sempre haveria em minha mente essa boa lembrança, ainda que o
sono me fosse roubado...
Percebi que eles vinham numa baita gangue.Fui até a portaria
do prédio conversar com o Sr. Barnes, o velho porteiro que estava mais morto
que vivo.
-Hey Barnes! Mas que porra é essa dessas donas batendo no
meu apartamento pela manhã?
-São da minha onda Blake, você deveria ouvir a mensagem
delas...Você é um cara que Precisa da
Palavra.
-Barnes meu velho...Eu preciso de Campari, alguns mangos
pras contas, uma boa foda de vez em quando e SONO!!!
--Ah Blake, entenda...Você precisa...
-Beleza Barnes!
Fui embora e me senti vitima de uma conspiração.
Andei trabalhando duro e meio que me perdi no tempo, achei
que a conversa com Barnes havia resolvido tudo até que numa manhã as vi
chegando.
Fui até a sala e liguei o estéreo.
Slayer no ultimo volume.
Tinha a esperança que as espantasse sem que eu precisasse
ser rude.
Elas não sabiam que todo
meu espirito de porco estava sendo represado em respeito as boas
lembranças pela senhora Arlington.
A campainha tocou no instante que Tom Araya gritava.
Elas vão embora, pensei.
Tocou de novo.
E de novo
E de novo
Vesti o roupão e fui até a porta.
-Bom dia, o senhor...
-Olha minha senhora por favor me escute..Tenho um grande
respeito pelas senhoras, por suas idéias e tudo o mais mas por Deus do céu
mulh...
-O nome é Jeová
-Que seja! Por Jeová, por Buda, Por Sócrates, Zico e toda
seleção de 82, NUNCA MAIS TOQUE NESSA CAMPAINHA! Não gostaria de ser rude com
vocês.
-Mas senhor
-Por favor! Eu imploro! Sou alcoólatra assumido...Só quero
beber até morrer em paz e me lascar 12 horas noturnas num emprego infernal,
será que é pedir muito?!
-O Senhor precisa de ajuda
-Bom dia madame, tenha um ótimo dia! Espalhe a palavra mas
pelo que quiser que seja NUNCA MAIS AQUI!
Fechei a porta e jurei que meu pesadelo estaria acabado.
Passado alguns dias vi a gangue entrando no prédio e
conversando animadamente com Barnes.
Pensei por um momento que minha paz havia chegado, mas uma
sensação de pesadelo se apoderou de mim.
Resolvi que aquela guerra acabaria hoje.
Lembrei das broas de milho na casa dos Arlington, de todo o
carinho que sentia pela mãe deles, mas não dava mais.
Eu precisava de sono.
Me preparei para a cartada final.
Liguei a tv, e ela apareceu ali, brilhante, reluzente e
eternamente linda.
Monica Sweetheart.
Deus não me deu nada.
Não me deu ionteligência, não me deu beleza, doçura, dinheiro nem
habilidades esportivas mas me deu um cabo de marreta.
Fui olhando Monica e lustrando o cabo.
Lustrando o cabo.
A campainha tocou.
Era a hora.
Meu ultimo ato abjeto contra a humanidade, meu sono voltaria
sem a necessidade de Campari.
Sai pra fora com aquilo tudo apontando com um fuzil.
Imaginei a senhora gritando e correndo e partindo e eu
ficaria ali, com a cara de demente, a boca de macaco e a paz mas...
A gangue havia mudado.Junto da senhora estava uma garota de
uns 23 anos.
Diabo! Eu lá, daquele jeito, a garota.
Estava a um palmo da prisão e de uma bela foda.
Uma vontade insana de ver o que havia embaixo daquela longa
saia, o negócio permanecia firme, meus olhos virando.
A senhora estava coma cara livida, acho que não me via
-Bom dia senhor
Fiquei em silêncio.
Estava concentrado demais na jovem.Esta olhou assustada.
Cutucou a senhorinha com o braço então ela viu.
-Minha nossa! Que vergonha!
Saiu andando.
Tinha vencido a guerra mas perdido um ótimo rabo
Um rabo jovem e emoldurado por uma longa saia.
Entrei em casa, olhei o rosto de Monica e fiz o que tinha
que fazer.
E depois, finalmente dormi.
autor :Cadu Turco
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