Quando o sol atravessa o vidro imperceptível da razão
quando o calor cai de encontro ao corpo e a alma
os olhos se enchem de esperanças e virtudes falhas
as esperanças andam em asas ligeiras do pecado e do fracasso
e as nuvens a acompanham como a chuva e as lágrimas
o tempo passa sem pressa e sem nenhum milagre nem rusga
no espasmo de uma tarde que cai vazia e ecoa o passado
feito um cão ferido de morte que geme em suas entranhas
belas melodias de dor e verdade que escorrem pelas
rachaduras
que sensação é esta que aperta as cordas e as horas
e afrouxa os ponteiros que não marcam as distancias
apenas um gosto de saudade que fica cristalizado em um
pingente
e vamos em frente circulando
um céu azul e febril de março
da janela se vê um horizonte
previsível do outro lado nulo do muro
e mais nada que se cria nem se compre com flores ou mármore
e o calor cai de encontro como um sorriso vertiginoso e
abissal
ao caminho que se escolhe como um abrigo que corta e queima
e assim vai se encolhendo como tímidos ombros caídos de um
anjo
o dia dando passagem a noite em carruagem as vésperas de um
funeral
a noite que preserva o mistério e as fogueiras e alguma
blasfêmia
que nos resta nestas horas de trégua ver na água cristalina
o reflexo
beber, dançar e se apaixonar até mesmo nos perdoar
enquanto este gosto de final de festa que fica guardado
dobrado em sigilo até o novo dia.
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