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Estava de volta ao meu
apartamento. Sentado no sofá a sala, remoendo todos os acontecimentos. Minha mente
estava cheia de informações que aparentemente tinham alguma ligação, ou não. Comecei
a pensar que tudo tinha sido apenas coincidência. E que o tal sujeito
misterioso não passava de um sujeito fazendo uma brincadeira sem graça. Ele deve
ter percebido o meu espanto. Existem pessoas muito doentes. Pessoas capazes de
fazer qualquer coisa para chamar a atenção.
Aí o telefone tocou. Estiquei
minha mão até a mesinha ao lado do sofá e atendi.
- Oi.
- Boa tarde. Posso falar
com o dono da casa.
- Sou eu.
- Estou ligando para o
senhor para falar de nossas ações sociais. Represento a creche “lar doce lar”. E
gostaria de lhe convidar a fazer uma doação...
Desliguei. É sempre a
mesma historia. Se eu fizer todas as doações que eles pedem. Vou acabar morando
em baixo da ponte. O governo não faz nada alem de cobrar impostos. E estas
associações estão sempre tentando arrancar mais algum. Se você não endurece um
pouco acaba arruinado.
Peguei a garrafa de uísque
do lado do telefone e servi uma dose, tomei um gole e bateram na porta. Disse:
- Entra. A porta ta
aberta.
Para minha surpresa. Era a
ultima pessoa que eu poderia imaginar, o Ângelus. Ainda usando o mesmo terno. Com
os sapatos impecáveis. Os olhos olhando direto na minha direção. Com um meio
sorriso no rosto, um certo ar de deboche.
- Como vai o amigo? Posso
entrar?
- Você já entrou. Não é
mesmo – eu disse -, pode sentar.
- Obrigado. E como vai
indo a investigação?
- Investigação?
Ele sentou ao meu lado no
sofá e serviu uma dose de uísque também. E tomou um gole.
- Sim. A investigação.
- Não sei o que você esta
falando.
- Pode me conseguir duas
pedras de gelo. Não gosto de tomar uísque quente.
- Sim.
Fui à cozinha e retornei
com o gelo. Ele pegou as pedras e disse:
- Agora esta bem melhor.
- Como descobriu o meu
endereço?
- Foi fácil. Sabe como é.
Cidade pequena.
- É, mas pelo visto você não
é daqui.
- Eu nunca disse que era.
- Certo. Mas o que você quer?
- Escuta, Pedro, eu só
preciso que você fique calma e não saia por ai causando tumulto.
- Eu não estou causando
nenhum tumulto.
Ele tomou outro gole,
respirou dentro do copo. Como quem aprecia. E largou o copo na mesinha.
- Agora, como eu ia
dizendo, tem que parar com o tumulto. Ou vai se complicar, deixe as coisas
acontecerem naturalmente.
- Bem, aaah.
- É, vá em frente...
- Se não tem nada a
dizer. Te manda daqui!
- Calma, Pedro, cuidado com
a pressão.
- Afinal quem é você?
- Vai jantar amanhã com a
Camila. Estou certo.
- Não é da sua conta.
Levantei e fui até a
porta. Ele continuava sentado.
- Tudo bem. Você janta
com ela e depois conversamos. Apenas um conselho, pare de ir ao cemitério. Se continuar
é capaz de ficar morando lá mesmo, se me entende. Eu volto amanhã depois que
terminar o seu jantar. Mas não esqueça, eu nunca estive aqui.
- Te manda daqui! Eu vou
chamar a policia.
- Quer o numero da
delegacia?
Ele se levantou e foi
embora. Senti que ele estava me vigiando.
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