17
Camila voltou com a
garrafa de vinho.
- Como esta a conversa
rapazes?
- Pedro esta começando a entender
– ele disse -, não é mesmo Pedro?
- Sim, estou começando a
entender.
Porque eles estavam me
contando? Comecei a pensar que existiam bem mais coisas do que ele estava me
contando. E onde se encaixava o Padre e o sujeito dos sapatos de espelho. Como
conseguiram esconder durante tanto tempo um negócio desses numa cidade tão
pequena.
- Então vocês formaram
uma quadrilha? Eu disse.
- Digamos uma filial. Uma
empresa que fornece muitos produtos.
- E o que o Padre tem a
ver com esta historia?
- Nada, ele não tem nada
a ver.
- Mas você insistiu tanto
que eu o procurasse.
- Foi apenas para lhe
distrair. Você estava obcecado em descobrir algo.
- E agora?
- Agora já sabe a
verdade. E pode nos ajudar.
- Não sei se quero me
envolver com isso.
- Já está envolvido.
Bernardo parecia
acreditar que o Padre não estava envolvido, mas algo me dizia o contrario. A
maneira como o Padre ficou nervoso com a minha visita. Eu não tinha engolido
aquela historia de insolação, de que o sol estava perigoso e etc. ele não
queria era ser visto comigo. Estava com medo. E quando falei no nome do sujeito
“Ângelus” tive a certeza de que ele sabia de alguma coisa muito seria. Talvez o
Padre saiba de coisas que nem Camila ou Bernardo sonham.
- O dinheiro é muito bom,
e não tem nenhum risco.
- E o velho morreu de
causas naturais? Perguntei, de forma sarcástica.
- Pode-se dizer que sim.
Digamos que ele morreu de uma ganância natural. Mas acredito que você não sofra
do mesmo mal dele.
- Vocês o mataram?
- Não! Camila deu um
grito.
- Então quem o matou?
- E isto realmente
importa? Bernardo disse.
- Ele era meu amigo.
- Sei...
Tudo começava a fazer
sentido. Dois dias antes de o velho Anderson morrer, ele tinha me procurado.
Estava meio impaciente e nervoso. Foi até o meu apartamento e quando ele ia
falar algo, seu telefone tocou. Nunca terminamos nossa conversa. Suas viagens
rotineiras a São Paulo. A casa afastada da cidade, escondida no meio do bosque.
Da ultima vez em que estive no inverno passado. Algo tinha me chamado a
atenção, mas não dei bola. Achei que era apenas a movimentação normal de
caminhões abastecendo o sitio com insumos para as lavouras. Ele nunca tinha
explicado muito bem seus negócios.
- O que estou tentando
lhe dizer Pedro, é que agora vamos precisar de alguém jovem como você. Bernardo
disse.
- E no que posso ser
útil?
- Precisamos de alguém
que continue indo a São Paulo para levar e trazer informações. Apenas isso. O
que acha?
- Preciso pensar. Não
quero me envolver com nada ilegal.
- Mas você não vai
propriamente se envolver. Precisamos apenas que leve e traga informações.
- Porque vocês acham que
eu não vou sair daqui e ir direto à delegacia.
- Porque o Anderson
confiava em você. E foi Camila quem pediu que lhe envolvesse no esquema.
- Muito gentil da sua
parte Camila.
- Podemos contar com
você? Ela perguntou.
- É como lhe falei. Existem
muitos níveis, muitas pessoas envolvidas e nem todo mundo tem acesso. Eu mesmo
não conheço todos os envolvidos. Não seria prudente querer arriscar. Existe uma
razão para nunca ter sido descoberto as nossas atividades. Pense nisso.
Bernardo completou.
- Vou pensar...
Senti que a conversa
tinha chegado ao fim, pelo menos naquele momento. Camila nos convidou para
irmos para outra sala mais reservada. Uma sala pequena onde a comida estava
posta sobre a mesa. Não parecia nenhum banquete. A pequena sala devia ser usada
para os empregados fazerem as refeições. Foi um jantar silencioso e tenso. Comi a comida com pressa, estava curioso para
saber a versão do outro sujeito. Ângelus já deveria estar me aguardando.
- A conversa foi muito
esclarecedora. A comida estava boa. Mas preciso ir agora.
- Lembre-se do que
comentamos. Amanhã você pode me responder. Bernardo disse.
- Não vai ficar para a
sobremesa? Camila perguntou.
- Preciso ir, mas
obrigado.
Levantei e fui saindo.
- Eu lhe acompanho até a
porta. Camila disse.
- Não se incomode eu sei
o caminho.
Comentários
Postar um comentário