DO OUTRO LADO DA REDENÇÃO
Nos anos 90, eu ficava andando
pela Osvaldo Aranha aos domingos no final de tarde até início da madrugada.
Sempre acompanhado por um ou outro amigo, as vezes andávamos em um pequeno
grupo. Passávamos antes em algum armazém e comprávamos duas garrafas de vodca.
A primeira garrafa secávamos antes das 17h e antes de chegarmos na Redenção.
Quase sempre ficava com a
segunda garrafa enquanto eles procuravam alguém que estivesse vendendo um pouco
de maconha.
Enquanto esperava, ficava
olhando as garotas judias passarem, existia sempre o mesmo padrão, ruivas, cabelos
curtos, pele muito branca, um estilo de se vestir que deveria significar algo
do tipo underground, seios grandes e naturalmente um pouco flácidos, a flacidez
de uma garota de 15 anos ou 17 anos, e um pouco loucas. Essa loucura tinha a
ver com a idade mesmo, aquela chama viva, um sorriso fácil e lábios carnudos,
questões hormonais. Entre um gole e outro, ia devorando todas que passavam na
minha frente, nunca transei tanto no meu imaginário como naquela época.
Sempre fazia alguma palhaçada,
o que mais gostava, era de fingir que estava bêbado e provocar algum policial. Mesmo
quando estava caindo de bêbado ainda conseguia fingir bem que estava bêbado.
Meus amigos me arrastavam pelos ombros antes que a brincadeira ficasse muito
séria. Também éramos um tipo underground, cabeludos e pseudo conhecedores de
música e dessas besteiras da vida.
Mas voltando as ruivas, a vida
é uma coisa bem interessante, depois de quase 30 anos. Consegui ser agarrado
por uma daquelas ruivas. Agora do outro lado da Redenção, na Cidade Baixa.
A mulher parecia uma obra de
arte retirada de algum filme do Fellini. Em especial uma cena em um de seus
filmes que marcou muito a minha adolescência, a cena é a seguinte, se me lembro
vagamente bem, a história é de um garoto virgem e uma mulher mais velha, ela
enfia a cara do garoto naquele seio gigante e quase o sufoca. A cena parecia ser
ao mesmo tempo erótica e bizarra.
Estava numa fase em que saia
com umas dez mulheres diferentes por semana, se você já saiu com dez mulheres
diferentes por semana, entende que é bom, mas bem cansativo. Estava já meio
cansado, mas não conseguia dizer não. E ela apareceu num momento que já tinha
outras na fila, mas a fila nunca diminuía pelo contrario só ia aumentando. Estes
tempos contemporâneos estão realmente uma loucura.
Tínhamos marcado e demarcado
muitas vezes um possível encontro, e mesmo assim ela continuava insistindo. Até
que uma amiga desistiu de um encontro e eu liguei para ela. Marcamos de nos
encontrar para tomar um vinho.
Tomamos aquela garrafa de
vinho e ficamos conversando a respeito dos anos 90 e dos lugares que
frequentávamos, também conversamos sobre arte e literatura. Quando terminamos o
assunto e o vinho fomos nos despedir, e ela perguntou se podia me dar um beijo
na boca. Consenti sem problemas. Foi um beijo apaixonado e violento de quem
estava com muita vontade de transar, não importando muito com quem.
Me ofereci para ir para sua
casa, mas ela achou que não dava, perguntou a respeito da minha e eu disse que
também não dava. Chamamos um Uber e fomos para o motel mais próximo.
Estava tenso, ia ser a minha
primeira ruiva, depois de uma espera de tantos anos. E ela era exatamente como
as garotas dos anos 90, apenas com muito mais seio, bunda e experiencia.
Enquanto tirávamos a roupa
íamos nos alisando e trocando mais alguns beijos, eu gosto de brincar com as
preliminares, então as vezes eu fico a primeira hora apenas brincando e
provocando. E foi isso que fizemos. Ela também sabia jogar bem.
Estava tudo ali, o cabelo
ruivo, a pele extremamente branca, os seios rosados, a boceta rosada, o cuzinho
rosado...as proporções do corpo exatamente como tinha sonhado, se conseguisse
me lembrar o que tinha sonhado. Aquela era a ruiva que eu queria ter
experimentado nos anos 90.
Pense em dois animais no cio
se devorando numa cama de motel durante quinze horas ininterruptas, estávamos
completos, fora de controle e sem noção de tempo. Quando terminamos já passava
da hora do almoço. Tomamos um banho, nos vestimos e dividimos a conta. Não
posso dizer, que já posso morrer feliz. Mas quando me lembro dessa história,
acredito que ainda se pode ter esperanças na justiça.
Röhrig C.
Do
livro: Cidade Baixa e suas Mulheres Altas “Um escritor na Cidade Baixa”
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