EFEITO
WERTHER (14)
Vejo a vida como uma escada
maluca, a cada degrau que subo, o anterior desaparece. Não existe solução para isso. Tudo perde o
sentido, um segundo depois que acontece. Nada justifica a minha existência, a
não ser essa sensação de fracasso iminente. Terminamos as cervejas e nos
despedimos. Voltei para a rua, fiquei um bom tempo caminhando sem saber para
onde ir. Foi quando me lembrei do pequeno quarto da Patrícia. Caminhei em sua
direção fingindo não sentir nada.
Já era tarde, mas sentia que
ela estava ali, apenas me esperando. Esperando algo que a tirasse de sua própria
inexistência. Tínhamos um acordo, que nunca consegui cumprir. Ela só não queria
ser enganada, e eu só sabia enganar.
Comecei a bater palmas em seu
portão, outros inquilinos saíram para ver quem era. Mas eu era ninguém, ninguém
conhecido. E voltavam para seus minúsculos quartos decepcionados. Como criaturas
das sombras que saem para ver alguma luz e encontram apenas mais sombras.
Patrícia foi a ultima a abrir
a porta. De forma incrédula ela caminhou até o portão.
- Oi Alex. Ela disse.
- Tudo bem? Eu disse.
- Quer entrar?
- Sim, quero.
Caminhamos pelo corredor até
seu quarto. Estava uma bagunça. Ela fechou a porta, e nos beijamos. Um beijo
forçado e morno.
- Achei que você não ia mais
aparecer. Ela disse.
- Também achei, - eu disse –
mas veja só, aqui estou.
- Estou vendo.
- Tem algo para beber?
- Estava bebendo vinho.
- Algo mais forte?
- Tenho uma garrafa de vodca.
- Acho que isso serve.
Ela me serviu um copo cheio,
ficamos sentados no sofá de dois lugares bebendo e fumando.
- O que te fez aparecer?
- Estava por aí.
- Você gosta disso?
- Não faço muita questão.
- Também não faço.
O sofá estava confortável, e
eu estava muito cansado. Ficamos bebendo, ela parecia ser um desses tipos que
ainda tem alguma esperança.
- Sou muito romântica, um
coração mole. Ela disse.
- Posso me servir mais? Eu disse.
Ela passou a garrafa e enchi
novamente o copo. Que merda estava fazendo ali, pensei.
- Quer escutar música? Ou ver
um filme? Ela disse.
- O que você quiser. Eu disse.
Sofia estava na casa dos pais,
Marcos tinha voltado para sua casa, Francoa deveria estar fazendo alguma
maluquice, Patrícia queria ser amada. E eu apenas desaparecer, para todo o
sempre.
- Sabe, queria apenas dizer
foda-se. Eu disse.
- Como assim? Ela disse.
- Desaparecer.
- Às vezes também tenho
vontade.
- É mais do que uma simples
vontade para mim.
- Você já bebeu demais. Quer dormir?
- Pode ser.
Ela se levantou e foi arrumar
a cama. Fiquei bebendo e pensando em como poderia desaparecer.
- Tira a roupa amor. Ela
disse.
- Vou só terminar de beber. Eu
disse.
Nos deitamos em sua cama. Foi uma
sensação boa, poder sentir seu corpo.
Ela se encaixou melhor,
empurrando sua bunda e ficando meio retraída as pernas. Me encaixei.
- Gosto quando você vem. Ela disse.
- Também gosto, - eu disse –
me da um beijo de boa noite.
Nos beijamos, e ela virou para
seu lado. Fiquei pensando, o que estava fazendo ali. Quem sabe o que todos
estamos fazendo, por aí?
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