EFEITO
WERTHER (08)
Francoa estava na seção de
destilados, abastecendo o carrinho com garrafas de vodca. Dobrei um corredor
antes, a direita, procurando a seção de objetos para casa. Nenhum prato se
parecia com o da velha. Desisti da ideia, e contornei o corredor. Nossos
carrinhos quase se chocaram.
- E ai meu velho, o que está
fazendo por aqui? Ele disse.
- Fazendo compras para trocar
depois. Eu disse.
- A Sofia anda quebrando a
louça de novo?
- Como você sabe?
- É o único jeito que ela
consegue fazer você vir no super.
- Acho que tem razão. E você
vai beber tudo isso?
- Isso. Ele disse, e apontou
para as garrafas dentro do carrinho.
- Parece até que vai abrir um
bar.
- Também não gosto muito do
supermercado, essa luz me incomoda muito, essa gente e seus carrinhos trancando
os corredores.
- Também não acho legal.
- As pessoas não se mancam, um
bando de mal-educados.
- Verdade.
Ficamos um tempo conversando a
respeito de nada. Até perceber que tínhamos trancado o caminho, nos dois
sentidos, as pessoas esperavam a gente terminar a conversa para passar. Ninguém
se atrevia a pedir licença a Francoa, apenas um olhar dele e as pessoas já
sabiam que era mais prudente voltarem do que tentar passar por ele, ou esperar.
- Vai lá em casa depois, - ele
disse – vamos encher a cara!
- Pode ser, depois confirmo,
ok.
Nos despedimos e segui em
direção ao caixa. O ar parecia voltar ao normal à medida que me distanciava. Fiquei
pensando, a quanto tempo ele não conseguia tomar um banho. Esperei um pouco na
fila, e quando foi a minha vez, a garota que estava no caixa disse: - Como vai
a Sofia? Quebraram os pratos de novo?
Peguei um bombom na gondola e coloquei
na boca.
- Vai bem, - eu disse, mastigando
o bombom – tudo em ordem.
- Fala pra ela que mandei um
beijo, faz tempo que ela não aparece.
- Pode deixar.
- Vocês ainda moram aqui no
bairro?
- Sim.
Ela falou o total da conta,
passei o cartão na máquina, paguei e peguei as sacolas, sem olhar para trás,
fui embora. Parecia que o bairro todo sabia que a Sofia quebrava os pratos para
me forçar a ir no supermercado.
(continua 😊) Röhrig C.
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