Uma
reunião confusa, no segundo andar do prédio cinza. Assim começava nossa
conversa sobre algo que ninguém queria falar. Foram arrumando as cadeiras em
circulo e ficamos nos olhando. Quem seria capaz de começar algum assunto
interessante. Todos com seus corpos pesados; sentados em cadeiras confortáveis
e estofadas. E tinha aquele silencio e
os olhares mornos uns sobre os outros. As pessoas estão sempre pensando coisas
importantes a respeito de seus próprios umbigos e tentam disfarçar com sorrisos
nervosos e uma generosidade insana. Tinha um palpite onde tudo ia terminar, mas
mesmo assim continuei me afundando em meu assento confortável.
-
Qual a coisa mais importante que você já viu? Ela disse.
- O
que? Ele perguntou.
Continuamos
todos ali sentados, nos olhando. Que perguntas idiotas eram aquelas eu pensei. Comecei
a contar quantas pessoas estavam ali sentadas, e tinha dez cadeiras em circulo,
mas nem todas estavam ocupadas. Então contei as que estavam vazias e depois
subtrai do total, tínhamos oito pessoas naquela sala. Não foi uma conta difícil.
-
Qual a coisa mais importante que você já viu? Ela disse.
- O
que? Ele perguntou.
Depois
de um tempo você acaba esquecendo o que é realmente importante. E isto
realmente é algo assustador. Percebi que não me lembrava de nada importante. Porque
eu estava naquela sala? Uma pergunta interessante que eu não sabia responder. Dei
uma olhada no relógio preso no meu pulso, tinha passado quinze minutos. Quem hoje
em dia usa um relógio preso no pulso por uma pulseira de couro. A vida tinha
corrido o tempo todo lá fora, e nos tínhamos vindo do lado de fora, deveríamos ter
algo mais para conversar. O mais interessante é que todos estavam tentando
fugir com seus olhares fixos nas cadeiras vazias.
-
Qual a coisa mais importante que você já viu? Ela disse.
- O
que? Ele perguntou.
Nunca
fui muito bom com relação a relações humanas, às vezes penso que não sei pensar
muito bem a este respeito. Um duvida simples, mas confusa a respeito do que
seriam as relações e do que eu deveria esperar ou oferecer. Talvez tudo
estivesse certo. Lembrei que um dia eu tinha chegado atrasado à parada do ônibus
e tinha perdido o ônibus. Mas não parecia ser algo solido ou importante para
dividir naquele momento. A vida imita a
arte ou a arte imita a vida, a sempre uma chance de se vomitar quando se fica
muito nervoso.
-
Qual a coisa mais importante que você já viu? Ela disse.
- O
que? Ele perguntou.
Aquelas
duas cadeiras vazias, tinham um significado feliz e ao mesmo tempo horrível. Podíamos
estar em qualquer lugar se quiséssemos de verdade, ou simplesmente uma
fatalidade nos impediria de estar ali. Comecei
a me sentir como um animal cuja pele era uma gaiola, a primeira gaiola. Não são
as mascaras que nos prendem com suas mentiras, são camadas de gaiolas. Estamos presos
dentro de nos mesmos e tudo que fizemos é construir mais círculos a nossa volta.
E assim infinitamente vamos aprisionando cada vez mais. Grades, muros altos,
armadilhas, vaidades, medo, egoísmo, raiva, amor, paixão, solidão...
-
Qual a coisa mais importante que você já viu? Ela disse.
- O
que? Ele perguntou.
Preciso
de um cigarro, comecei a focar o meu pensamento. Imaginando estar fumando um
cigarro bem tranqüilo, sentado no banco de uma praça deserta no outono. Vendo as
folhas das árvores mudando de cor e caindo. Uma praça aonde as pessoas não vão,
onde não existe nenhum constrangimento, nem disputas. O que me incomoda nas
pessoas é a necessidade de tentarem adivinhar o que os outros estão pensando. Com
base em seus próprios pensamentos. Eu normalmente quando olho para alguém, não
penso ou tento imaginar o que a pessoa a minha frente esta pensando. Mas pode
ser uma mentira também, normalmente as pessoas mentem. A maioria das verdades
se baseia em alguma mentira ou especulação. Quanto tempo ainda ficaria ali, esperando.
Então
eu perguntei para ela: - Qual a coisa mais importante que você já viu?
- O
que? Ela disse.
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